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quinta-feira, 29 de março de 2012

Guto Bitu – Comicamente seco e poético





Se o cearense tem fama de humorista, Luiz Augusto Bitu não fica de fora dessa afirmação. Uma poesia nas estirpes marginal e bem humorada é uma das características desse poeta. Guto Bitu, esculpi, modela, desenha, pinta e escreve e diz que sua obra é “cercada do comportamento cearense, se divertir é básico pra mim, então isso se reflete no que eu faço. Já o urbanismo está em mim como as seqüelas de uma tuberculose, não posso retirar esse universo depois de ter passado tanto tempo inserido nessa fria realidade”.






Alexandre Lucas - Quem é Guto Bitu?

Guto Bitu - Luiz Augusto Bitu
É um tabuleiro sem peça
É um cheque mate as avessa
Na faculdade mental
É o cão soprando cal
Nas vistas de quem é cego
É o prego que entorta
Quando entra na parede
É um balanço de rede
É um rangido de porta
É uma folha que corta
A água que mata a sede
Luiz Augusto Bitu 10/11/09

Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?

Guto Bitu -Tento sobreviver de arte desde adolescente, mas faço arte e sou artista desde criança. Tive meus primeiros contatos reais com mundo profissional na arte depois da maior idade e após isso foi só encarar a coisa como minha própria vida e não uma mera profissão. Não gosto da palavra trabalho me cheira a algo maquinado, um esforço em vão para pessoas que não o merecem. Arte não é isso.

Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?

Guto Bitu - Minha arte tem como maior influencia eu mesmo, já pensei muito sobre isso, sei que tem muita gente, cada um com a sua informação, para somar na minha arte, mas quem equilibra estas informações sou eu, aí é a diferença do verdadeiro artista (pessoa que leva a arte com profundidade) e aqueles que só copiam o que lhes inspira.

Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:

Guto Bitu - Minha trajetória é algo que ainda começa, apesar de estar inserido no mundo da arte desde criança, mas para mim está apenas se iniciando e como todo início tem pouca coisa pra falar e muito mais a se observar. É por isso que insisto sempre em algo tão rebuscado para me expressar.

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Guto Bitu - Tenho medo de falar sobre política, pois não a vivemos na real e sim a politicagem, então nesse assunto estou fora, isso me parece mais com time de futebol. Sou um crítico social e comportamental esses universo só me serve como matéria prima e não como medida.
Não gosto nem de botar arte perto de política que é para não sujar a arte.

Alexandre Lucas - Você é um artista com forte preocupação ambiental?

Guto Bitu - Sempre fui e sempre serei.

Alexandre Lucas - Quais os trabalhos que você já fez neste sentido?

Guto Bitu - Tudo. Sempre tenho como preocupação a natureza que estou inserida.

Alexandre Lucas - Como surgiu a poesia na sua vida?

Guto Bitu - Como um desafio, de repente, embolada, martelando, galopando a beira mar. Via a poesia como iluminação, como dom e eu que era um reles mal aluno, não teria essa iluminação divina. Até o dia que me disseram: duvido que tu faças, fiz e tirei o primeiro e o terceiro lugar com as minhas respectivas primeira e segunda poesias escritas, com esse incentivo nunca mais parei, tenho necessidade de escrever, detesto ler, sei que é meio egoísta, contudo poesia é minha terapia e se tenho público é por que eles tem identificação com minhas inquietações.


Alexandre Lucas - Qual a importância de você ser membro da Academia dos Cordelistas do Crato?

Guto Bitu - A Academia pra mim é algo nostálgico, me faz lembrar mestre Elói, meu primeiro grande incentivador na poesia. Tento permanecer lá, apesar de minha vida irregular e cigana, com a missão, que a maioria lá abraçou: prosseguir com sonho de seu Elói e não deixar a nossa querida literatura de cordel morrer.

Alexandre Lucas - O humor e a urbanidade é uma das características do seu trabalho?

Guto Bitu - Acho que refletimos nossas realidades. Apesar de achar que no trabalho não exista humor, nem quando se é palhaço. Vejo minha obra cercada do comportamento cearense, se divertir é básico pra mim, então isso se reflete no que eu faço. Já o urbanismo está em mim como as seqüelas de uma tuberculose, não posso retirar esse universo depois de ter passado tanto tempo inserido nessa fria realidade.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Guto Bitu - Essa só vou poder responder se você substituir essa palavra trabalho, creio eu que queira dizer obra e isso só vou poder responder 30 anos depois de morrer.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos?

Guto Bitu - Nenhum se tudo der certo, sombra e água fresca. Trabalho é pra escravo eu já me alforriei.

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