TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 13 de março de 2012

A luta dos povos e dos impérios - José do Vale Pinheiro Feitosa

Os recentes textos que publiquei no blog cheiram a uma espécie de antiamericanismo na visão de um ou outro leitor. Isso sem contar, naturalmente, aqueles que por ideologia já têm uma posição simpática a um determinado lado do conflito.

A base, no entanto, se refere a dois conceitos: a autodeterminação dos povos e a dominação estrangeira. Quando aceitamos como um valor humano a autodeterminação, algo tem que se considerar: a natureza desta autodeterminação em relação aos outros povos. Isso reflete exatamente a relação dialética entre autodeterminação e dominação estrangeira.

A maior parte das nações européias usou sua autodeterminação ou para realizar experiências internas desastrosas para seu povo ou dominar outras nações. As instituições destas nações chegaram a um nível tal de negação da autodeterminação de outros povos que afrontaram o restante da humanidade com o cristianismo e com instituições político-econômicas específicas para a dominação como o colonialismo.

Os EUA, na metade do século XIX, tomaram territórios mexicanos; o Havaí e no início do século XX avançaram em demanda dos territórios da América Central e depois da América do Sul. Quando a segunda guerra mundial terminou os EUA tinham criado instituições neo-imperialistas tão dedicadas que puderam dominar intensos territórios e seus mercados em todos os continentes.

No campo estrito das experiências internas dos povos vai se observar que no cinismo necessário num ambiente em que nações não respeitam a autodeterminação de outras, especialmente aquelas do modelo econômico dominante, muitas experiências foram condenadas. O nazi-fascismo, o comunismo na União Soviética, as ditaduras de direita e assim por diante.

E aí é que vem o imbróglio na mente das pessoas atuais. No geral as experiências externas mais condenáveis não foram apenas aquelas que levaram sofrimento aos seus povos, ao contrário, foram aquelas que pegaram o rumo da violência contra a autodeterminação dos outros povos.

Portanto querer adotar um valor emocional numa situação complexa e contraditória não liberta quem assim se conduz. Fazer cara feia para Assad, Talibãs, Fidel, Chavez, entre outros é apenas um modo seletivo e ideológico. Comemorar o trucidamento de Kadhafi e aceitar os motivos de EUA, França, Inglaterra e Itália pelo petróleo da Líbia, enquanto não fazem o mesmo na Síria, por que não tem petróleo, é ser parte do injustificável.

Por isso fica difícil entender a razão pelas quais no mesmo dia saem tantas coisas contraditórias para os apaixonados: um sargento americano matando crianças e mulheres a troco de nada, apenas por que é uma máquina de guerra do império; o conflito palestino-israelense desproporcional em mortos – 23 palestinos e zero israelense; as mortes na Síria posta na conta do exército pelos rebeldes e na conta dos rebeldes pelo exército.

Ou se entende que existe uma contradição entre autodeterminação e os impérios, entre cultura nacional e a cultura estrangeira, entre o mercado nacional e o mercado dominado pelas grandes economias, entre a conquista da ciência e da tecnologia e a patente e o domínio na produção das técnicas, ou não se encontra neste mundo como pessoa livre.

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