Aconteceu recentemente o "Nossas Américas: Nossos Cinemas - I encontro de Jovens Realizadores da América Latina e Caribe". Foi um êxito.
Seguem, em anexo, dois textos: um texto que Manfredo Caldas divulgou na lista
Fórum dos Cineastas e a CARTA DE SOBRAL.
Este parecia um sonho impossível, mas conseguimos realizá-lo.
Leia os dois textos, você compreenderá melhor o que aconteceu.
Peço que divulgue os dois textos nos blogs do Cariri.
No "Nossas Américas: Nossos Cinemas" conseguimos aprovar uma moção de apoio à Mostra CARRI CARIBE.
Fizemos a primeira Cariri-Caribe de forma bem tímida, em Farias Brito, para marcar a idéia.
Agora podemos fazê-la maior com participação de todos os países do Caribe e o evento pode se realizar
nas cidades de Crato, Juazeiro, Barbalha, Farias Brito, Nova Olinda e etc.Uma mostra que circule por todo o Cariri.
O CARIRI precisa ter uma mostra de cinema importante e internacional, ao mesmo tempo em que abra espaço para o cinema da região, do Nordeste e do Brasil. O intercâmbio internacional é fundamental.
No "Nossas Américas", em Sobral, estiveram presentes realizadores de 14 países e foi fundamental o apoio da Prefeitura Municipal de Sobral, da UVA, SESC e instituições locais, ao lado da instituições federais e internacionais que ajudaram na realização do evento.
Será que o Cariri pode também pensar grande e realizar esta mostra? Gostaria de ver o nosso Cariri com a ousadia que já teve nas décadas de 70 e 80?
Para que isto aconteça no Cariri precisamos somar esforços.
Aquele Centro de Audiovisual para o Cariri, do qual falei em reunião com realizadores da região, durante a Mostra Cariri do SESC, parece que vai sair mesmo. O Cid prometeu.
Será uma grande conquista importante para a região do Cariri e para o audiovisual cearense.
Terminei um filme de longa-metragem sobre um filho Crato: O Cego Aderaldo. Ficou bem legal. Avant-première será em exibição hors concurs, no Cine Ceará, no dia 3 de junho.
Se puder venha assistir. Guardo os convites. Avise-me.
Vamos nos falando
Abraços
Rosemberg Cariry
NOSSAS AMÉRICAS: NOSSOS CINEMAS
Caros,
Durante quatro dias, de 23 a 26 de maio de 2012, na cidade de Sobral, sertão do Ceará, aconteceu um evento de grande significação histórica e cultural: o I NOSSAS AMÉRICAS: NOSSOS CINEMAS – I Encontro de Jovens Realizadores da América Latina e Caribe. Ali estiveram reunidos jovens realizadores de quatorze países, incluindo representantes de povos originários, e jovens vindos de todos os Estados do Brasil. Também estiveram presentes cineastas, cineclubistas, produtores, distribuidores e exibidores alternativos e veteranos do cinema das Américas e do Caribe, de Geraldo Sarno a Humberto Rios, de Claudino de Jesus a Alícia Cano, de Lázara Herrera a Marta Rodriguez, de Saudhi Batalla a Mônica Charole, de Helena Ignez a Juliana Rojas, de Eric Rocha a Frederico Machado, de Michel Régnier a Kullyur Saywa, de Isabela Cribari a Carmen Rosa Vargas, de Ivan Sanjinés à minha pessoa. Muitos países mandaram representantes das suas secretarias de audiovisual. A realização foi da Sereia Filmes e da Prefeitura de Sobral . O patrocínio do evento veio da SAV e da Secult-Ce, com apoio do CNC, CBC, INTERARTE, SESC-Sobral e muitas outras instituições internacionais que financiaram a vinda dos jovens realizadores.
Pois bem, estes quatro dias foram intensos com projeção de filmes (Mostra “Novo Cinema Latino Americano”, com curadoria de Petrus Cariry, Mostra “Santiago Alvarez”, com curadoria de Lázara Herrera, Mostra “Grande Caribe” com curadoria de Rigoberto López e Mostra “Curta o Ceará”, com curadoria de Bárbara Cariry, além das mostras “Visualidades” e “Cinema de Forquilha”). Existe uma cidade, no sertão do Ceará, de nome FORQUILHA, onde coletivos de jovens realizaram mais de 15 longas digitais nestes dois últimos anos. São filmes tecnicamente precários, de baixíssimos orçamentos, mas de grande popularidade na cidade e na região. Aconteceram debates, palestras, oficinas e shows musicais com grupos locais e um show especial chamado “Nossa Américas” com a cantora cearense Myrlla Muniz, que interpretou grandes compositores da América Latina e do Caribe. Pelas ruas desfilaram maracatus, bumba-meu-boi, reisados e pastoris, numa bela manifestação das artes populares.
Todo este acontecimento, que reuniu mais de uma centena de pessoas da América Latina e do Caribe, afora a participação local, foi coordenado e dirigido por uma jovem cineasta e produtora de 24 anos: Bárbara Cariry, com articulação e apoio de outros jovens brasileiros e latino-americanos com destaque para Axel Monzú (Argentina), Luis Alberto Cassol (Brasil), Kuylluler Saywae Tobias (Equador) e David Hernandez Palmar (Colômbia) e o xavante Divino (Brasil), estes três últimos representantes dos povos originários. Bárbara Cariry, ao realizar um evento de tamanha grandeza, teve o seu batismo de fogo e foi elogiada por todos, já que tudo funcionou muito bem, da formatação do encontro aos princípios de diversidade e do respeito às culturas, das mesas de debates às projeções, do transporte à alimentação.
Os jovens reunidos em Sobral, ao discutirem os princípios do encontro, declararam: SER JOVEM É UM ESTADO DE ESPÍRITO, e a solidariedade é o que nos uniu, independente das nossas idades, línguas ou culturas diferenciadas. Os jovens homenagearam os “avós” Geraldo Sarno e Helena Ignez (Brasil), Michel Régnier (Canadá), Lázara Herrara (Cuba), Humberto Rios (Argentina) e Marta Rodriguez (Colômbia).
Foi realmente um encontro de grande importância histórica, já que se trata do primeiro encontro desta natureza ocorrido em nosso país. Fiquei realmente muito contente com a solidariedade, o clima de amizade. Rosemberg Cariry e Tito Almejeiras (dois “avós” que ajudaram na articulação brasileira e latino-americana deste encontro, em Sobral, e muito lutaram pela sua realização) diziam a todos que ali se realizava um sonho de muitos anos e de muitas gerações.
O jornal “O Povo”, abriu manchete saudando “O Portunhol com sol a Pino”, chamando atenção para a comunicação dos jovens que falavam entre si, com ou sem ajuda de intérpretes, em uma aproximação das culturas. Dizia o jornal: “Para quem torce o nariz para esse híbrido de duas línguas, um aviso: se a informação chega ao seu receptor, pouco importa como ela foi transmitida. E se em quatro dias de intensa troca de informações, meios e, até, construção de identidade de uma América cinematográfica, a regra é se comunicar e criar laços”. Os demais meios de comunicação espalhados pelo país, simplesmente ignoraram o evento.
A segunda edição do evento acontecerá em Lima, no Peru e terá o patrocínio da Secretaria do Audiovisual daquele país, por intermédio da ação de Carmen Rosa Vargas, secretária do audiovisual daquele país.
As palavras mais usadas neste encontro, traduzidas em portunhol e outros línguas foram: povo, nação amiga, intercâmbio, solidariedade, cooperação, respeito, planeta terra, pacha mama, cinema, internet livre, democracia. Pela primeira vez, vi alguém chamando um velho cineasta de meu avô e pedir: "caminhem conosco, ensine-nos as sabedorias que aprenderam ao longo da vida. Vocês são nossos avós”. Foi a jovem índia Kuyllur Saywa, do Equador, que disse estas palavras que emocionaram a todos nós. Ficamos pensando na diferença daquilo que estávamos vivenciando com o debate audiovisual no Brasil atualmente, onde só se fala em mercado e em números, numa distorção profunda da vida e do sentido da arte e da possibilidade de encontro e de solidariedade entre os povos.
Na festa de encerramento do NOSSAS AMÉRICAS: NOSSOS CINEMAS, no sábado,foi lida a CARTA DE SOBRAL em línguas originárias aimará, guarani e quíchua. Também em línguas oficiais, espanhol e português, numa afirmação de respeito aos povos e à diversidade cultural. A plateia emocionada aplaudiu de pé. Para não mais me estender nestas palavras que traduzem um sentimento coletivo, recomendo que leiam e divulguem a histórica CARTA DE SOBRAL, solicitando que seja colocada em todos os blogs e redes de divulgação do nosso audiovisual.
Emocionado e bronzeado pelo sol do sertão, em nome de todos nós que vivenciamos o evento, envio os mais calorosos abraços latino-americanos e caribenhos.
Manfredo Caldas
( A "Carta de Sobral" já foi publicada neste blog por Central de Informações)
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