TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 16 de setembro de 2012

USINAS EÓLICAS UM CRIME COM CARA DE BONDADE ECOLÓGICA - José do Vale Pinheiro Feitosa


Confesso que ao retornar à minha cidade por meio de alguns blogs gostaria de falar sobre flores. Afinal, tanto tempo faz que a deixei e deveria vir apenas com um sentimento líquido a regar a vida. Mas não pude. A minha cidade continua linda e sua paisagem muda, porém mantendo a mesma personalidade daquela linha horizontal demarcatória de sua identidade: a Chapada do Araripe.

Pois não É que fantasmas assombram esta paisagem. Antes um fato: a Constituição Federal diz no Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. Posso ter um engano brutal sobre o que sejam paisagens naturais notáveis, mas como cidadão: afirmo que a limpeza da paisagem da Chapada do Araripe é um dever público.   

Agora aos fantasmas. Existem esforços econômicos, jurídicos e de engenharia prontos para implantarem usinas Eólicas na Região. Energia limpa! Todos exultarão. Mas só quem sentiu a quebra sistemática promovida por tais usinas na paisagem do litoral cearense sabe o que isso significa.

Em conversa há pouco mais de um ano com o Arquiteto Fausto Nilo (que é compositor musical) ele garantiu-me ser possível preservar as paisagens naturais notáveis e implantar tais usinas em outros ambientes. Não fazem por mera questão econômica dos investidores: teriam que fazer torres mais altas. Mas o prejuízo econômico é coletivizado e o lucro dos novos “usineiros” é privatizado.

Vamos ao notável na paisagem. Isso se encontra na cultura, na música, na poesia, no romance, na narrativa, nos cartões postais e assim por diante. O que tínhamos de belo nas praias cearenses: o mar, o vento, os coqueirais, as dunas, a planura do seu território. Aí criaram mostrengos dignos de Guerras nas Estrelas a engolir as paisagens litorâneas do Ceará.

Em Fortaleza, na Taiba e agora em Paracuru os aproveitadores e oportunistas plantaram usinas eólicas nas dunas e à beira mar. A naturalidade e notabilidade da nossa paisagem foi esmagada por patas gigantes e pás a girar como a desejar novos Quixotes a enfrentar moinhos. Paracuru, plana e pouco vertical se encontra emoldurada por gigantes a dominar sua paisagem até mesmo da distante ponta da Lagoinha, já em Paraipaba. É um crime feito sob a batuta de advogados, juízes e órgãos ambientais além duma municipalidade a imitar espelhos e pentes trocados por Pau Brasil pela ingenuidade mercantil dos nossos índios.

O fantasma a apontar o dedo tenebroso para a Chapada do Araripe é um fato e as preparações andam céleres. Dizem que até candidato com chances de se eleger na cidade faz parte do negócio. Já possui território para levar o seu quinhão no escambo de nossa paisagem.

Aos nossos bravos cratenses: proteger uma paisagem natural notável de um antolho é mais sutil e complexo do que simplesmente a defesa da APA Araripe. O negócio, dizem, é na Chapada, foram da área de proteção. Aí aquela linda, histórica e eterna linha horizontal da Chapada estará para sempre tomada pelas torres imensas a corromper seu patrimônio visual.  

Bom, não falei de flores mas ao menos da paisagem

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