Confesso que ao retornar à minha cidade por meio de alguns
blogs gostaria de falar sobre flores. Afinal, tanto tempo faz que a deixei e
deveria vir apenas com um sentimento líquido a regar a vida. Mas não pude. A
minha cidade continua linda e sua paisagem muda, porém mantendo a mesma personalidade
daquela linha horizontal demarcatória de sua identidade: a Chapada do Araripe.
Pois não É que fantasmas assombram esta paisagem. Antes um
fato: a Constituição Federal diz no Art. 23. É competência comum da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios - proteger os
documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais
notáveis e os sítios arqueológicos. Posso ter um engano brutal sobre o que
sejam paisagens naturais notáveis, mas como cidadão: afirmo que a limpeza da
paisagem da Chapada do Araripe é um dever público.
Agora
aos fantasmas. Existem esforços econômicos, jurídicos e de engenharia prontos
para implantarem usinas Eólicas na Região. Energia limpa! Todos exultarão. Mas só
quem sentiu a quebra sistemática promovida por tais usinas na paisagem do litoral
cearense sabe o que isso significa.
Em
conversa há pouco mais de um ano com o Arquiteto Fausto Nilo (que é compositor
musical) ele garantiu-me ser possível preservar as paisagens naturais notáveis
e implantar tais usinas em outros ambientes. Não fazem por mera questão
econômica dos investidores: teriam que fazer torres mais altas. Mas o prejuízo
econômico é coletivizado e o lucro dos novos “usineiros” é privatizado.
Vamos
ao notável na paisagem. Isso se encontra na cultura, na música, na poesia, no
romance, na narrativa, nos cartões postais e assim por diante. O que tínhamos
de belo nas praias cearenses: o mar, o vento, os coqueirais, as dunas, a
planura do seu território. Aí criaram mostrengos dignos de Guerras nas Estrelas
a engolir as paisagens litorâneas do Ceará.
Em
Fortaleza, na Taiba e agora em Paracuru os aproveitadores e oportunistas
plantaram usinas eólicas nas dunas e à beira mar. A naturalidade e notabilidade
da nossa paisagem foi esmagada por patas gigantes e pás a girar como a desejar
novos Quixotes a enfrentar moinhos. Paracuru, plana e pouco vertical se
encontra emoldurada por gigantes a dominar sua paisagem até mesmo da distante
ponta da Lagoinha, já em Paraipaba. É um crime feito sob a batuta de advogados,
juízes e órgãos ambientais além duma municipalidade a imitar espelhos e pentes
trocados por Pau Brasil pela ingenuidade mercantil dos nossos índios.
O
fantasma a apontar o dedo tenebroso para a Chapada do Araripe é um fato e as preparações
andam céleres. Dizem que até candidato com chances de se eleger na cidade faz
parte do negócio. Já possui território para levar o seu quinhão no escambo de nossa
paisagem.
Aos
nossos bravos cratenses: proteger uma paisagem natural notável de um antolho é
mais sutil e complexo do que simplesmente a defesa da APA Araripe. O negócio,
dizem, é na Chapada, foram da área de proteção. Aí aquela linda, histórica e eterna
linha horizontal da Chapada estará para sempre tomada pelas torres imensas a
corromper seu patrimônio visual.
Bom, não falei de flores mas ao menos da paisagem
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