Ladislao Mazurkiewicz nasceu como todos. Expulso do útero
materno no ano de 1945. Na província de Maldonado, numa cidade à beira de um
mar de sal e o rio da Prata: Piriápolis. Na direção de Punta Del Este, quando
se vem de Montevideo. Era o tempo dos rebanhos gordos que fizeram a riqueza do
cone sul. A Europa faminta pela guerra tornou as fazendas planas dos pampas em
minas de ouro.
Mazurkiewicz cresceu na contramão da maioria. Tornou-se uma
das maiores barreiras ao chute dos pés na bola. Com as mãos, saltos olímpicos
em busca da bola e um senso infinitesimal de tempo para compreender a
trajetória do chute. Um dos maiores goleiros da história.
Aos 67 anos de vida, não é quase nada, mas é muito para esse
nosso corpo frágil e rapidamente perecível. Juntou seu porte extraordinário no
gol ao mito de um dos mais espetaculares times de futebol da América do Sul: o
Peñarol. Que recebeu esse nome de um sujeito que morava na região onde os
operários organizaram o time. Era um italiano com sobrenome Pignarolo que
evoluiu para Peñarol.
Hoje, quando Mazurkiewicz entrou na ordem do necrológio
jornalístico, aqui na terra dos tupiniquins, o resumo do goleiro será os
dribles e as bobeiras dele diante de Pelé. Como se tudo sobre Mazurkiewicz se
resumisse a ser driblado por Pelé. Essa é uma revelação terrível sobre como os
meios de comunicação são parciais e funcionando como mera sonoridade do mesmo a
ecoar-se.
Mas eu conheci alguém que assim não pensaria. Era mineiro de
corpo e alma e se tornara fã do goleiro pela grandeza que dera ao Atlético
Mineiro. O conheci na Favela do Escondidinho, onde trabalhei como médico por
dez anos. Fizera uma homenagem ao goleiro pondo no filho mais velho do nome de
Mazuquiebe.
Mazuquiebe, pelo tempo, já deve ser pai de crianças e hoje
deve pensar no goleiro Uruguaio. Um encontro no sentido exato das esferas
externas: entre Mazurkiewicz e Mazuquiebe. E isso sem necessitar dos dribles de
Pelé.
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