O Pavilhão Carlos Chagas, localizado no Hospital São
Francisco, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
era onde todos os estudantes politizados e preocupados com os problemas de saúde
pública iam terminar o curso, se especializar e até fazer mestrado ou
doutorado. Foi ali que reencontrei o nosso Patativa do Assaré. Vi em detalhes o
Metrô rasgar o chão atrás do Pavilhão e rapidamente começar a transformação da região
da chamada Cidade Nova com a destruição do famoso Mangue, que foi um verdadeiro
bairro dedicado somente à prostituição e as casas de show. Luiz Gonzaga andou
nos começos por lá.
O nosso centro de estudos era diferente de tudo o mais da
UFRJ. Além de discussões científicas, convidávamos personalidades que tinham
uma visão de mundo diferente do regime político de então. Foi assim que tivemos
o Ziraldo, o Paulinho da Viola e o cronista Carlos Eduardo Novaes, que naquela
época fazia um grande sucesso no Jornal do Brasil.
Nesta ocasião o Carlos Eduardo criticou um jornalista que se
iniciava na crônica montado no sucesso do pai. Era o protótipo daquele
nepotismo que ergue méritos por afinidade dos antepassados. De qualquer modo
estávamos todos equivocados, pois cada história é a que se conta e não apenas a
crítica do presente que pode ser um alerta, mas não a sentença definitiva. Com o
tempo saberemos quem tem, de fato, fôlego suficiente para o que se propõe.
E esse novo cronista teve história de sobra, chamava-se Luiz
Fernando Veríssimo. Um dos bons escritores do nosso tempo. Um excelente
contador de casos. Inteligente, bem informado e, sobretudo, alegre e otimista,
mesmo quando faz severas e terminais críticas a certa canalhice humana. Ele é
tão presente na vida das pessoas que alguns, se achando geniais, escrevem e dão
o nome de Veríssimo à autoria do seu texto só para sentir o sucesso da leitura
através do sistema de busca.
Pois nas proximidades de final de ano Veríssimo esteve à
beira da morte. Fui informado de que se tratou de uma infecção pelo vírus da
Influenza e que é objeto de vacinação especialmente na população idosa.
Felizmente se restabeleceu e se encontra em atividade novamente. O jornal o
Estado de São Paulo acaba de publicar uma crônica dele falando de como ele se
encontrou no elevador da morte. Quem puder, procure no Google que achará a
referência.
O talento que sobreviveu não ao inexorável fim de todos, mas
à morte prévia no pódio da escala social. Veríssimo vivo é uma grande notícia.
Mas ter ele tomado o caminho que tomou é ainda maior.
E assim deixo um abraço em todos. Na primeira quinzena de
abril estaremos em contato novamente. Salvo alguns estímulos maiores e eventuais.
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