Um laboratório
financiado pelo fundo de pesquisa da Microsoft, chamado FUSELABS que realiza
pesquisa básica e aplicada sobre experiências sociais voltada para a inserção
de usuários na criação, conexão e colaborações com informações e ideias,
especialmente em busca social, envolvimento de comunidades on-line e mídia
cívica. Enfim analisam o comportamento das redes sociais diante de movimentos
cívicos e políticos e o modo como estas redes funcionam para inserir, conectar
e colaborar com tais movimentos ou como instrumento de associação e colaboração.
O Fuse tem um blog que publicou
uma análise do uso do Twitter nas manifestações recentes aqui no Brasil,
lembrando que o Twitter foi o principal meio de conexão no ambiente das mídias
sociais utilizados durante as manifestações (este dado eu apresentei num texto
publicado aqui ali por volta do dia 21). Os pesquisadores coletaram todos os
Tweets (1.579.824) postados entre primeiro de junho e 22 de junho contendo as
principais hashtags (VemPraRua; MudaBrasil, ChangeBrazil, ChangeBrasil,
passelivre; protestosrj; ogiganteacordou; copapraquem; pimentavsvinagre; sp17j;
consolação; acordabrasil.)
Antes uma questão
essencial: ao pegar as principais hashtags o FUSE não mede exatamente a marcha
espontânea das manifestações uma vez que hashtags mais evidentes e listados
acima tinham uma organização por trás, muitas suspeitas de serem financiadas
(como ogiganteacordou, changebrazil, changebrasil etc.). Isso demonstra
claramente que pelo menos uma parte importante da força das mídias não acontece
dentro dela mesmas mas fora dela pelos mesmos agentes da política e do jogo de
poder no Brasil e fora do país.
De modo que os
resultado que lerão abaixo refletem muito o modus operandi de tais organizações
e claro a capacidade que têm de saber usar as mídias sociais e acelerar as
mensagens de modo a criar um estado de emergência geral em quem se encontra
conectado à redes sociais. Vamos observar alguns achados da pesquisa.
A dinâmica dos tweets
ao longo dos dias mostrou que estas hastags vinham desde o dia primeiro de
junho mantendo um padrão de publicações diárias abaixo de mil por dia,
refletindo muito o movimento passe livre, mas a partir do dia 13 de junho elas
ultrapassaram este número e no dia 14 já se aproximada perto de 50 mil
publicações. Entre os dias 15 e 16, após a repressão dura em São Paulo e no Rio,
as publicações atingiram próximo a cem mil. Nos dias 17 e 18 as publicações chegam
ao máximo perto de cento e cinquenta mil e se mantiveram assim até o dia 21
quando a parti do dia 22 retornou aos números de publicações iguais àqueles do
dia 15.
Segundo a própria
análise do FUSE LABS o momento em que o twitter esteve mais ativo aconteceu na
noite do dia 17 de junho, por volta de 20 horas, quando os manifestantes
ocuparam a cúpula do Congresso Nacional. Neste momento o pico de publicações
atingiu a 96.531 tweets por hora. Uma das fontes mais ativas de publicações
esteve com o AnonymousBrasil, estrutura muito bem organizada nas redes sociais,
inclusive compostas por gente muito técnica em ciência da computação. Aliás os
Anonymous esteve por trás de convocatórias em dias posteriores sempre de
natureza ideológica e contra o Governo Dilma e em defesa da luta contra a PEC
37 que entrou como tema nas manifestações como um contrabando pois não se
tratava de uma grande questão social.
E o conteúdo das
mensagens? Por aquelas contagens de palavras o que se destaca frente a todos é
palavra Brasil, vem prá rua; verás que um filho teu não foge à luta e o gigante
acordou. Como vemos são mensagens genéricas e que poderiam vir de qualquer
hashtag. Porém se destacaram muito o change brazil; help e brazil que vieram de
grupos específicos. Os nomes de governadores e prefeitos não aparecem e Dilma
não está entre os principais. Existem várias palavras sobre políticas e
direitos públicos e com referências à manifestações na Turquia. Mas surge uma expressão
importante que é: abaixo a rede globo o povo não é bobo.
Enfim são mensagens que
refletem as forças em luta que vieram para ruas. No final fica a sensação que o
encaminhamento posterior é para quem tiver melhor organização. Aliás tem uma
coisa muito interessante que é a natureza internacional dos protestos, ou seja
a participação de publicações feitas fora do Brasil. Apenas a metade das
publicações foram feitas no fuso horário de Brasília. E na outra metade veio de
uma gama variada de outras localidades se destacando Santiago (a estudantada
está rebelada), o fuso horário da Groelândia; do Atlântico Médio, Hawaii,
Quito, Hora do Atlântico (Canadá); Hora do Leste (EUA e Canadá), Istambul e
Buenos Aires.
Ai vemos outro dado: a
lutas nacionais fazem parte da luta global. Inclusive a participação de tweets
de Istambul reflete muito bem a associação internacional desta luta. Fica claro
que a presença de brasileiros no exterior deve refletir nisso como do mesmo
modo a participação de pessoas que estão vivendo em países que passam por
manifestações assemelhadas. Neste sentido fica mais claro a associação entre
Istambul e o Brasil do que entre o Cairo e o Brasil que não aparece entre os
mais importantes.
Outro dado é que a rede
de interação começa escassa no início em 15 de junho, fica densa no dia 17 de
junho, permanece alguns dias e retorna a ser escassa no final. Isso significa
no meu entender o clássico comportamento social do momento da fervura quando os
atores mais ativos borbulham para depois arrefecerem. No pico da fervura, nos
dias 17 e 18 os agentes mais ativos na rede ampliam muito as suas interações
para novos contatos, mas depois disso retornam ao padrão inicial.
O estudo recomenda que
a análise continue se ampliando com outras hashtags e que se olhe mais para os
outros canais de comunicação como o Facebook. Além do mais é preciso descer a
uma análise mais cuidadosa sobre as motivações e o papel dos diferentes atores
como pessoas isoladas, estudantes, organizações políticas como o MPL, os partidos
políticos tradicionais, coletivos como o Anonymos e, claros, grupos de
interesse econômico por trás de vídeos como o Change Brazil (acrescento eu).
Enfim, o nosso pessoal
de ciências sociais, ciência da política, de psicologia social, direito,
economia, comunicação social e outros ramos do conhecimento pode entrar no jogo
imediatamente e qualificar ainda mais as análises destas redes pois elas revelarão
muito das dinâmicas em curso nesta fase da história. Inclusive o papel
eventualmente manipulador dos governos e das corporações donas desta redes como
o Google, a Microsoft etc.
A título de
contribuição segue o endereço do FUSE LABS o qual recomendo pois uma simples
visita a ele já mostra o perfil de projetos que desenvolvem e até mesmo
oportunidade de colaboração e qualificação. O endereço é http://fuse.microsoft.com/.
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