Pintor famoso, sessentão,
aposentado, família constituída, estabilizado na vida, eis que, de repente, se
vê tomado por um profundo desejo de “sumir do mapa”, dar um basta naquele vazio
imenso e doído que, sem mais nem menos, dele se apoderou. “Depressão” e
depressão da braba, que o leva até a adquirir uma arma visando acabar logo com
aquilo – para, quem sabe ? - encontrar um pouco de sossego, paz. Na hora de
apertar o gatilho, no entanto, reflui, não tem coragem de fazê-lo; e aí, resolve
sair pelo mundo no rumo que a “venta” (nariz) apontar. Logo se põe na estrada,
sem qualquer compromisso com horário ou destino, dia ou noite.
Numa parada momentânea,
em meio a uma chuva torrencial, batidas no vidro do carro lhe revelam o rosto apreensivo
de uma jovem, encharcada pela tempestade. Mesmo a contragosto, aceita dar-lhe
carona, “pra qualquer lugar”, conforme lhe determina a nova companhia.
De pronto, à sisudez do
sessentão deprimido, contrapõe-se o comportamento irrequieto e questionador daquela
adolescente que poderia ser sua filha e que, aos poucos, paulatinamente, consegue
fazê-lo “se abrir”. Contribui para tanto, o fato de também ela ter saído de
casa, expulsa pela mãe e padrasto, e não saber (ou não ter) pra onde ir.
Ao contrário do que
normalmente acontece em dramas análogos, aqui o “velho” não tenta aproveitar-se
da “jovem” de 17 anos, belíssima e desamparada. Pelo contrário, aos poucos cria
uma afeição paternal tão grande por ela, de tal forma que chega a enfrentar
alguns marginais (de rifle em punho) que tentavam abusá-la.
No dia a dia, Marylou (esse
o nome da jovem) inocentemente se sente à vontade para chamá-lo de “velho”,
reclamar da “cafonice” das suas roupas e por aí vai. E ele, que ultimamente não
suportava nem ouvir a voz da própria esposa, passivamente aceita tudo, no maior
bom humor. Chega, até, a sorrir das trapalhadas em que ela se envolve
(principalmente no quesito comida).
O divisor de água, no entanto,
se dá quando ela (que pensava ser ele um “pintor de paredes”) vê alguns de seus trabalhos e, de tão impressionada, o
estimula a “fazer mais”. Ela mesma, na praia, serve de modelo (bem comportada).
E aí ele redescobre, na pintura, o prazer pela vida, sente que “está vivo”.
De repente, a notícia
estampada no jornal, de que a mãe se encontra à beira da morte em razão das
agressões do padrasto, leva a “jovem” a fazer o caminho de volta, na companhia,
é claro, do “velho”. Que aproveita para reatar com a esposa.
Durante a longa permanência
da mãe na UTI, pra não deixar Marylou desamparada, de comum acordo com a “revigorada”
esposa, ele consegue na Justiça a “guarda” daquela menina que praticamente lhe trouxe
de volta à vida.
No final, com a mãe
restabelecida e o padrasto preso, os dois retornam às origens: numa despedida
pra lá de dolorosa para os dois, tão grande a afeição nascida, Marylou volta pra
casa da mãe; o “velho” (Taillandier é o seu nome) pra sua casa, sua família.
Renascido, por uma menina que lhe trouxe de volta à vida e que, a partir de
então, considerará sua filha.
Sem dúvida, “SEJAM
MUITO BEM-VINDOS” é um cativante filme e digno de se ver.
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