“Os diferentes períodos
da vida do Padre Cícero Romão parecem demonstrar o desenvolvimento de uma
psicose, revelada desde a adolescência. É assim que, quando aluno do Seminário
em Fortaleza, já demonstrava sinais tão evidentes de “mitomania” (tendência
para mentir), que o reitor do estabelecimento, padre Pedro Chevalier, opôs dúvidas
à sua ordenação. Mas o bispo D. Luis dos Santos não achou que o exagerado
misticismo do “formigão” apresentasse perigo à ação do futuro missionário.
Achou que devia ser ordenado, e assim se fez”.
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“Se o chefe de Juazeiro tivesse podido
acumular e manter, naquele meio, um sólido e brilhante cultivo do espírito,
este, sim, seria o seu maior e mais legítimo milagre. Vivendo, há mais de meio
século, em contato apenas com o sertanejo bruto, e ademais, num ambiente de
delírio; não dispondo sequer de tempo para ler e meditar, pois que suas horas
não bastam para atender a peregrinos e beatos; sem recursos de renovação de
idéias, por livros e jornais, que até sua casa só raramente chegam; sem necessidade
alguma que o leve a exercitar o espírito, para sadio objetivo cultural – é óbvio
que só se possa encontrar nele, no termo de oitenta anos de vida, uma
inteligência medíocre e fatigada, adstrita aos mesmos abusões, preconceitos e
desvios mentais do sertanejo...
À vista de tudo isso,
já seria inadmissível uma elevada cultura em qualquer indivíduo sujeito à sua
vida especialíssima. E os fatos o comprovam, com toda a crueza. Em toda sua
longa vida sacerdotal e política, jamais pronunciou um discurso memorável, uma
conferencia ou série de pregações que tivesse produzido eco; jamais escreveu um
artigo de propaganda ou defesa; uma obra modesta que fosse de doutrina ou
combate.
Por que, por exemplo,
não explicou, num livro, que seria fácil compor, se tivesse cultura, a sombria questão
religiosa em que se envolveu ? Por que não consagrou sua vida à propaganda dos meios científicos
de combate à seca, não fez o estudo da história ou das necessidade atuais da
região ? Por que não impulsionou, por meios eficazes, a evolução social do
burgo que sempre dominou ? Por que não tem permitido que se desenvolva a
instrução pública de Juazeiro ? Por que se deixou dominar, de modo absoluto,
sem um reclamo ou desabafo, por meia dúzia de indivíduos que o têm manejado, e
que o manejam, no próprio proveito deles ?
Necessariamente,
porque, sobre a hipótese de uma psicose que o desadapta a elevada função
social, falece-lhe, por inteiro, a cultura do espírito. A maneira pela qual o
Padre Cícero se dirige aos romeiros e ouve lamentações e queixas, recebe
dinheiro e outras dádivas, aconselha e receita, não é só a de uma pessoa que
tivesse escapado à normalidade: é a de um homem manifestamente inculto”
(Lourenço
Filho - que conviveu e foi recebido pelo próprio).
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