J. FLÁVIO VIEIRA
Não deu outra. Mal Sinderval
Bandeira, prefeito de Matozinho, soube da realização do Copa do Mundo aqui no
Brasil, ficou todo serelepe. Cedo começou a mexer seus pauzinhos, a futucar os
políticos a ele alinhados, no estado; a cutucar o vazio dos deputados federais
que foram apoiados, por sua administração. O sonho era fazer de Matozinho uma
das cidades sede da World Cup. Far-se-ia, claro, necessário fazer uma reforma ampla no estádio “Sinderzão”,com
capacidade atual para 2000 torcedores, melhorar a infraestrutura da vila, mas nada impossível,
principalmente vindo dinheiro das estranjas. Antes mesmo de avançar nos
primeiros passos, com o ovo ainda entalado no fundo da galinha, Sindé, através da sua amplificadora -- os
puxa-sacos locais-- já fez espalhar pelas redondezas , a notícia. E o povo já
ficou mais agitado que picolé em boca de banguelo. Vendedores de rolete de
cana, de din-din, de pipoca , passa-raiva e filhós sonharam, imediatamente, com
um substancial incremento na venda dos seus produtos. As pensões de Matozinho,
então, começaram a se mobilizar , no sentido de melhorar e ampliar suas
acomodações. E o professor de inglês do Grupo Escolar Cacildo Jurumenha,
conhecido como “Tobias or not Tobias”, imediatamente iniciou uma turma noturna,
especial, para todos aqueles que se interessassem em aprender a língua inglesa,
para melhor comunicação com os turistas.
Com
o andar da carroça, no entanto, Sinderval começou a perceber que seu sonho ultrapassava
os limites da realidade. Nem mesmo a capital do estado conseguiu se tornar sede
da Copa, como diabos Matozinho poderia alimentar tamanha pretensão? O enlevo alimentado pela Vila, no entanto, não
podia ser tolhido de uma vez, sob pena de trazerem consigo suas indigestas consequências
políticas. Sinderval, assim, foi comendo pelas beiradas, como quem degusta
prato de angu quente. Espalhou, de início, que as verbas para ampliação do
estádio tinham atrasado, depois que o pessoal da FIFA estava reestudando a
divisão das sedes, por fim, jogou a culpa na administração estadual que por
incúria e má gestão, havia prejudicado todo o estado, com a perda de tão
importante evento. O povo que foi degustando o purgante, pouco a pouco,
terminou por esquecer o amargor do remédio nas últimas doses.
Como prêmio de consolação, Sinderval resolveu
organizar uma espécie de FIFA FUN FEST local. Botou um telão no meio do “Sinderzão”,
contratou sanfoneiro, cobriu o estádio de bandeirolas verdes-amarelos e
estampou acima do telão um nome mais regional : “Forrozão das Bolas Dentro”. A
cada jogo do Brasil, reunia-se toda Matozinho no estádio , logo cedo,
começava-se o tarrabufado até a hora do jogo e, terminado o espetáculo com a
invariável vitória da nossa seleção, o rela-bucho continuava noite adentro. Matozinho
virou uma festa até o fatídico jogo da semifinal.
Naquele
dia, quando começou o bombardeio de gols contra nosso escrete, o povo se
revoltou e o pau comeu no centro. Antes que a desgraça se fizesse completa,
depois do terceiro gol, os matozenses rasgaram o telão de cima abaixo e
quebraram , por completo, o aparelho de retransmissão. Para todos os efeitos,
assim, em Matozinho pelo menos, o Brasil perdeu da Alemanha de 3X0. Houve
apenas uma exceção a esta regra.
O
velho Vanderico Salustiano estava na capital no dia da goleada e assistiu por
lá nossa derrocada. Voltou capiongo e com o humor mais baixo que diferencial de
cururu. Não comentou nada com ninguém, fechou-se como pequi verde. Uma semana
depois teve uma congestão: morreu-lhe o lado esquerdo e ficou com a língua
trôpega. Chamaram Janjão da botica que prescreveu a meizinha milagrosa:
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Tem que tomar Aguardente Alemã: uma gota , pelo menos sete vezes ao dia !
Ao
ouvir a prescrição, Vanderico entreabriu os olhos e, língua presa, suplicou:
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Alemã? Alemã? Não ! De sete a um de novo, não !
E
bateu a caçoleta.
Crato,
01/08/14
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