“Essa eleição é a prova que o Brasil
ficou no passado. Não é nem bolsa família, não é marquetagem. O Nordeste sempre
foi retrógrado. Sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno
em relação ao poder. Durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e
agora com o PT. É uma região atrasada, pouco educada, pouco construída, que tem
uma grande dificuldade para se modernizar. Se modernizar na linguagem. A
imprensa livre, a liberdade de imprensa é um valor que vale do Brasil para
baixo.” – DIOGO MAINARDI NO
MANHATTAN CONECTION DA GLOBO NEWS.
Analisar realidades complexas requer equilíbrio, método,
renovação contínua dos dados de modo acompanhar as transformações sempre
existentes em todos os componentes. Na mídia e agora na internet é muito comum
repetição de análises feitas no passado sendo repetidas como se nada tivesse acontecido
depois das mesmas. As conclusões que haviam chegado já não explicam mais a
realidade atual.
Se fôssemos compreender São Paulo com os elementos de sua
estrutura econômica e política tradicional iríamos encontrar um dos lugares
mais atrasados do Brasil. Oligarca, infenso às mudanças sociais, agarradoS a tradições
obsoletas e muito colonialista por princípio das classes proprietárias.
O nordeste brasileiro, o Rio Grande do Sul e até Minas
Gerais quando compreenderam o atraso que era São Paulo para o Brasil fizeram
uma revolução para mudar a estrutura política e econômica do país. Não esqueçam
que São Paulo é a terra de políticos atrasados como Adhemar de Barros, Jânio
Quadros, Paulo Maluf e que é adorado pelos paulistas que os seguiu como
cordeirinhos sem qualquer crítica. Eles serviam aos propósitos da elite do
Estado. E pelo menos Ademar e Maluf tiveram seus nomes associados à corrupção e
nunca os paulistas e sua mídia funcionou como oposição a eles e nestes termos.
Aliás, São Paulo se tornou a menina de ouro da meritocracia
neoliberal, cheia de universidades que correm atrás do sucesso pessoal em
atropelo dos demais. O interior do Estado, não obstante a existência de estruturas
econômicas bastante avançadas, tem um instinto caipira chique de postura
country pois se identificam com os cowboys americanos.
Dizer que São Paulo é isso não significa que ali mesmo se
encontram coisas impressionantes em termos de vanguarda, tanto cultural, quanto
de experiência de um mundo em transformação. São Paulo é importantíssimo para
um projeto de nação.
Assim como o Nordeste brasileiro. Que não é liberto das
oligarquias e dos mandões que se renovam travestidos com outras vestimentas. O
nordeste, também tem uma mistura de arcaico e moderno, de liberdade e
escravidão. Mas o nordeste não é a rabeira da nação. Só a visão de antolhos
pode imaginar que seja possível se viver num país irrequieto, grande e populoso
como Brasil, mantendo traços arcaicos que nunca mudam. Tudo muda, tudo se
transforma e o Nordeste é ao mesmo tempo fonte de vanguardas e tradições. Como aliás
São Paulo, Minas Gerais, Rio, os Gaúchos e por aí vamos.
O que o preconceito contra nordestino quer dizer? Então
vocês votam juntos? Têm noção de região? Com esta unidade são capazes de eleger
presidentes e marcar a política nacional? Isso não pode. Apenas a São Paulo
isso é devido. Somos o centro do universo e tudo mais gira em volta de nós.
Mas o nordeste está fazendo esta revolução em que o centro
não é mais o velho oligarca paulista. E isso aconteceu pelo crescimento da vida
urbana, pela migração populacional que aprendeu. Pela maior facilidade de se
deslocar conhecimento de um ponto para outro. Olhem para a tabela abaixo e
sintam que o Nordeste tem um peso transcendental na eleição de Dilma Roussef.
Tem um peso pela unidade de seu voto, mas isso anularia São Paulo e não seria
suficiente para que ela vencesse.
A questão é que Dilma não perdeu de muito, à exceção de São
Paulo (assim mesmo conseguiu quase 36%), em alguns grandes colégios como o
Paraná e o Rio Grande do Sul. E levou mais de um milhão de vantagem no segundo
e terceiro colégio eleitoral (Minas e Rio). A união nordestina foi central para
a vitória da candidata mas isso não seria suficiente se não fosse uma
substancial votação da candidata mesmo nos estados em que perdeu as eleições.
Portanto o preconceito chega às raias do nonsense quando
pronuncia inverdades com elementos de alguma crítica do passado. E por falar em
eleições olhem para segunda tabela e compreendam algumas coisas.
Fica claro que o público se relaciona muito bem com a urna
eletrônica e que a quantidade de votos nulos e brancos não foge às margens bem
pequenas. Também fica claro que de modo geral o voto de protesto não aconteceu
com muita frequência, a não ser claramente no Rio de Janeiro quando quase um
milhão de pessoas anulou o voto. Vimos o fato igualmente no Rio Grande do
Norte, no Distrito Federal e no Amazonas.
No Rio Grande do Norte isso tem coerência com os votos nulos
para governador que praticamente duplicam em relação ao de Presidente. Portanto
se houve protesto ali foi muito mais para governador. No Rio de Janeiro
igualmente aconteceu com os votos de governador (13,9% de votos nulos) e no
Distrito Federal aconteceu a mesma coisa. Em outras palavras os votos nulos
foram aumentados nestes estados igualmente a governador e presidente, portanto,
não se refere apenas à presidência.
Por último uma palavra sobre as abstenções. Elas não
ultrapassam a um quatro dos eleitores habilitados e tendem a crescer naqueles
estados onde não houve segundo turno para governador. Mas devem existir várias causas,
inclusive de registro eleitoral, para explicar o tamanho da abstenção. E leve
em consideração que não comparamos com as abstenções do primeiro turno, quando
as candidaturas a deputado infiltram-se mais junto aos eleitores mobilizando-os.
Sim quase que me esquecia. Crato votou maciçamente em Dilma:
83,55%. Juazeiro também: 80%. As abstenções foram relativamente pequenas, assim
como os votos brancos e nulos.
Estado
|
Dilma
Número
|
Dilma
%
|
Aécio
Número
|
Aécio
Percentual
|
Diferença
|
TOTAL
|
Total
|
54.501.118
|
51,64%
|
51.041.155
|
48,36%
|
3.459.963
|
105.542.273
|
Acre
|
138.922
|
36,32%
|
243.530
|
63,68%
|
104.608
|
382.452
|
Rondônia
|
364.055
|
45,15%
|
442.349
|
54,85%
|
78.294
|
806.404
|
Amazonas
|
1.033.090
|
65,02%
|
555.810
|
34,98%
|
477.280
|
1.588.900
|
Roraima
|
97.329
|
41,10%
|
139.477
|
58,90
|
42.148
|
236.806
|
Amapá
|
227.414
|
61,45%
|
142.664
|
38,55%
|
84.750
|
370.078
|
Pará
|
2.103.829
|
57,41%
|
1.560.470
|
42,59%
|
543.359
|
3.664.299
|
Tocantins
|
428.662
|
59,49%
|
291.848
|
40,51
|
136.814
|
720.510
|
Região
Norte
|
4.393.301
|
56,54%
|
3.376.148
|
43,46%
|
1.017.153
(13,09%)
|
7.769.449
|
Maranhão
|
2.475.762
|
78,76%
|
667.517
|
21,24%
|
1.808.245
|
3.143.279
|
Piauí
|
1.385.096
|
78,30%
|
383.884
|
21,70%
|
1.001.212
|
1.768.980
|
Ceará
|
3.522.225
|
76,75%
|
1.067.096
|
23,25%
|
2.455.129
|
4.589.321
|
R. G Norte
|
1.201.576
|
69,96%
|
516.011
|
30,04%
|
685.565
|
1.717.587
|
Paraíba
|
1.380.988
|
64,26%
|
767.916
|
35,74%
|
613.072
|
2.148.904
|
Pernambuco
|
3.438.165
|
70,20%
|
1.459.266
|
29,80%
|
1.978.899
|
4.897.431
|
Alagoas
|
941.286
|
62,12%
|
574.012
|
37,88%
|
367.274
|
1.515.298
|
Sergipe
|
772.253
|
67,01%
|
380.222
|
32,99%
|
392.031
|
1.152.475
|
Bahia
|
5.059.228
|
70,16%
|
2.151.922
|
29,84%
|
2.907.306
|
7.211.150
|
Região
Nordeste
|
20.176.579
|
71,70
|
7.967.846
|
28,30%
|
12.208.733
(43,37%)
|
28.144.425
|
E. Santo
|
911.906
|
46,15%
|
1.064.067
|
53,85%
|
152.161
|
1.975.973
|
R. Janeiro
|
4.488.183
|
54,94%
|
3.681.088
|
45,06%
|
807.095
|
8.169.271
|
M. Gerais
|
5.979.422
|
52,41%
|
5.428.821
|
47,59%
|
550.601
|
11.408.243
|
S. Paulo
|
8.488.383
|
35,69%
|
15.296.289
|
64,31%
|
6.807.906
|
23.784.672
|
Região
Sudeste
|
19.867.894
|
43,82%
|
25.470.265
|
56,17%
|
5.602.371
(12,35%)
|
45.338.159
|
Paraná
|
2.408.740
|
39,02%
|
3.765.025
|
60,98%
|
1.356.285
|
6.173.765
|
S. Catarina
|
1.353.808
|
35,41%
|
2.469.079
|
64,59%
|
1.115.271
|
3.822.887
|
R.G.Sul
|
2.997.360
|
45,47%
|
3.452.455
|
53,53%
|
455.095
|
6.449.815
|
Região
Sul
|
6.759.908
|
41.10%
|
9.686.559
|
58,90%
|
2.956.651
(17,97%)
|
16.446.467
|
M. Grosso
|
717.230
|
45,33%
|
864.999
|
54,67%
|
147.769
|
1.582.229
|
M.G Sul
|
590.835
|
43,67%
|
762.233
|
56,33%
|
171.398
|
1.353.068
|
Goiás
|
1.365.658
|
42,89%
|
1818087
|
57,11%
|
452.429
|
3.183.745
|
D. Federal
|
580.581
|
38,10%
|
943.275
|
61,90%
|
362.694
|
1.523.856
|
Região
Centro Oeste
|
3.254.304
|
42.57%
|
4.388.594
|
57,43%
|
1.134.290
(14,85%)
|
7.642.898
|
Estado
|
Abstenções
|
Nulos
|
Brancos
|
Total
|
Brasil
|
21,10%
|
4,63%
|
1,71%
|
27,44%
|
Acre
|
22,18%
|
2,09%
|
0,88%
|
25,15%
|
Rondônia
|
24,35%
|
4,20%
|
1,17%
|
30,26%
|
Amazonas
|
22,62%
|
6,17%
|
1,58%
|
30,37%
|
Roraima
|
16,43%
|
4,46%
|
0,91%
|
21,8%
|
Amapá
|
14,56%
|
4.07%
|
0,82
|
19,45%
|
Pará
|
25,22%
|
4,41%
|
1,10%
|
30,73
|
Tocantins
|
24,73%
|
3,08%
|
0,91
|
28,72%
|
Maranhão
|
27,37%
|
2,68%
|
1,06%
|
31,11%
|
Piauí
|
21,25%
|
3,32%
|
0,86%
|
24,57%
|
Ceará
|
21,75%
|
5,03%
|
1,41%
|
28,19%
|
R.G.Norte
|
17,66%
|
8,53%
|
1,82%
|
28,01%
|
Paraíba
|
18,00%
|
5,68%
|
1,88%
|
25,56%
|
Pernambuco
|
17,77%
|
4,23%
|
1,95%
|
15,49%
|
Alagoas
|
19,63%
|
3,95%
|
1,50%
|
25,08%
|
Sergipe
|
15,91%
|
4,16%
|
1,56%
|
21,63%
|
Bahia
|
24,18%
|
4,30%
|
1,43%
|
29,91%
|
E. Santo
|
21,72%
|
3,09%
|
1,75%
|
26,56%
|
M. Gerais
|
21,17%
|
3,56%
|
1,47%
|
26,20%
|
R. Janeiro
|
22,36%
|
10,51%
|
2,78%
|
35,65%
|
S. Paulo
|
20,51%
|
4,47%
|
1,97%
|
26,95%
|
Paraná
|
18,43%
|
2,46%
|
1,27%
|
22,16%
|
S. Catarina
|
17,86%
|
2,88%
|
1,28%
|
22,02%
|
R. G. Sul
|
18,19%
|
3,85%
|
2,14%
|
24,87%
|
M. Grosso
|
25,43%
|
2,14%
|
0,90%
|
28,47%
|
M. G. Sul
|
23,13%
|
2,04%
|
1,12%
|
26,29%
|
Goiás
|
21,53%
|
4,64%
|
1,65%
|
27,82%
|
D. Federal
|
12,64%
|
6,24%
|
1,76%
|
20,64%
|
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