A música sempre entremeou-se na malha cultural do mundo
ocidental a partir da produção industrial em massa. É que se tornou um produto
de massa de uma produção voltada para atender o universo social.
Após a segunda guerra mundial o cinema, o rádio e depois a
televisão deram abrangência continental à música produzida em estúdio e depois
multiplicada em cópias individuais. Os aparelhos eletrônicos produzidos em
massa e vendidos às residências deram realidade ao efeito multiplicador.
Mas houve um momento em que esta infiltração generalizada
deu um salto e passou a representar, de modo quase nucleado, toda uma época
histórica, especialmente a dinâmica cultural e política. Isso aconteceu com os
festivais entre os anos 60 e 70.
No início dos anos 80, os festivais ou assemelhados, já
começavam a se diluir novamente no tecido cultural e se transformaram em show
business. O exemplo mais clássico é o que vem acontecendo com Rock in Rio. Enfim
os festivais deixaram de nuclear um tempo, um momento da história.
No Brasil os festivais tiveram papel igual ao que aconteceu
em todo mundo. Os festivais da Record e depois da Globo colimaram a mudança
comportamental da sociedade e politizaram a questão social e econômica do país.
Especialmente foram políticos na insurgência contra o regime militar. Mas
também trouxeram vários ensaios culturais que chocaram plateias e segmentos da
sociedade.
O festival mais badalado dos EUA, aquele que mais representou
este sentido nuclear de uma época foi o de Woodstock. Um grito contra a velha
sociedade do pós guerra. De mulheres do lar, do papai trazendo o pão no final
do dia, descendo do seu Cadilac, entrando na casa de subúrbio, beijando mamãe e
todos felizes assistindo à televisão aos goles de Coca-Cola.
Woodstock foi um grito contra a guerra do Vietnã e os
políticos conservadores de então, especialmente o governador da Califórnia um
conhecido do futuro: Ronald Reagan. Foi um momento de junção de criatividade
pura. In extremis. A criatividade no
limite do corpo e de sua perenidade.
Woodstock foi além dos ensaios musicais que até então haviam
galvanizado os jovens. Foi além do “make love not war”. Muito depois da paz e
da flor. Foi um ensaio de inserção musical pura. Onde as palavras e as notas
musicais se fundiam numa sonorização experimental que elevava os músicos e A assistência
a um estado isolado e desprovido de tudo mais que há no mundo.
Por isso as drogas e o álcool foram veículos tão possantes naqueles
experimentos sobre o palco num terreno rural no interior americano, onde todos
acampavam e viviam numa coletividade sem partes. As três figuras que mais
sentido deram a este componente de Woodstock foram Janis Joplin, Jimi Hendrix e
Joe Cocker. Os dois primeiros foram tragados pela overdose.
Joe Cocker teve uma janela de sobrevivência. Apenas ontem
morreu. De câncer do pulmão, muito provavelmente decorrente de algum dos
hábitos que teve. Joe Cocker em Woodstock fez com With a little help of my
friends dos Beatles o que Karl Marx fez com a filosofia de Hegel, a girou de
ponta cabeça.
Aí é que vem o sentido colimador de uma época. Que arrasta
para o núcleo tudo que já existe e neste denso senso o funde e o expele como a
terra faz com suas rochas ao engolir a crosta e a devolve-la em formato
metamórfico. Joe Cocker marcou um momento que, por certo, muitos iguais a
história ainda terá.
With a little help of my friends - Joe Cocker no festival de Woodstock - canção dos Beatles.
You can leave your hat On - Joe Cocker - trilha do filme 9 e 1/2 semanas de amor.
Up where we belong - Joe Cocker
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