Os brasileiros tomaram conhecimento detalhado do assunto
através do jornalista Fernando Morais que escreveu o livro “Os últimos soldados
da Guerra Fria.” Foram onze agentes cubanos infiltrados nos EUA para, em Miami,
vigiar os movimentos dos grupos anticastristas.
Em 1998, o FBI prendeu dez deles e um fugiu.
Dos dez restaram presos cinco, conhecidos como Lo Cinco.
Eram Antonio Guerrero Rodríguez, nascido em Miami em 1958, engenheiro
aeronáutico, poeta com 22 anos de prisão; Fernando González Llort, nascido em
Havana 1963, graduado em relações internacionais com 18 anos de prisão; Ramón
Labañino Salazar, nascido em Havana em 1963, economista sentenciado a 30 anos;
René González Sehwerert, nascido em Chicago em 1956, piloto e instrutor de voo,
sentenciado a 15 anos e o quinto é Gerardo Hernández Nordelo, nascido em Havana
em 1965, graduado em relações internacionais, caricaturista e sentenciado a
duas vezes a prisão perpetua e mais quinze anos.
É a Gerardo Hernández que o caso pertence. Originário de
família cubana humilde, nasceu seis anos após o triunfo da revolução. Entre
outras experiências em vida, participou, em 1989, de 54 missões de guerra
durante a ajuda militar cubana a Angola.
Mas o caso começa agora. Em 1988, vindo de uma história da
adolescência, Gerardo casa-se com Adriana Pérez O´Connor. Vai para a guerra.
Retorna a Cuba como herói e logo a seguir é enviado em missão secreta a Miami
onde trabalha em artes gráficas numa revista. Adriana ficou morando em Havana.
Em 1998 os cubanos são presos, entre eles, Gerardo e este
recebe a pior sentença e fica incomunicável. Adriana Pérez se torna uma
potência a denunciar a situação do marido e reivindicar sua libertação.
Manifesta-se na televisão pelo mundo, vai falar com autoridades diplomáticas de
muitas nações. Chega aos EUA, visita até mesmo a Casa Branca para tentar ver o
marido.
Impossível até de um encontro através de portas de vidro.
Adriana jamais conseguiu ver o marido. Dois dos cinco terminam suas sentenças,
são soltos e retornam a Cuba. Não havia qualquer esperança para Gerardo que não
fosse a solidão e perpétua cadeia. Mas Adriana é um personagem da liberdade.
Aí chegam estes últimos meses de 2014 (16 anos passados),
Gerardo que fora preso com 33 anos, já tem 49 anos e Adriana que tinha 28 anos,
tem 44 anos. Numa surpreende manobra, o Presidente Obama dos EUA abre
negociação com Raul Castro e todos são libertados. De um lado e outro. Do outro
lado, Gerardo Hernández Nordelo volta a pisar o solo de Havana.
E a sentir o calor do corpo abraçado de Adriana, seus beijos
latinos, sua história de solidariedade e no limite das possibilidades. Cuba faz
uma festa para o retorno dos prisioneiros. O grande Silvio Rodriguez canta com
eles em praça pública. Adriana e Gerardo, o caso de amor, estão juntos na cena
pública.
Uma pausa narrativa. O amor que é este senso de ter o outro
no presente e no futuro é a constituição da reprodução dos tempos neste processo
sorvedouro de aconteceres. Por isso o amor é a prova acabada da solidariedade
histórica. Na fragilidade, a viga que sustenta, é a história dos dois.
Agora retornando. Eis que surge nas imagens de programas de
televisão um casal amoroso, com o marido passando a mão sobre a barriga grávida
de Adriana. Uma gravidez de mais de seis meses. E eles a espera do fruto deste
amor.
Pronto. A trilha de interpretações e perplexidade se
espalha. Quem é o verdadeiro pai do filho de Adriana? Gerardo, este afastado do
corpo de Adriana até bem próximo do mês de dezembro, não poderia ser. Um caso
de amor aceito como a decisão no limite da idade de Adriana? Aos 44 anos a
reprodução lhe era cada vez mais impossível. Então Gerardo tinha um acordo
tácito de dar sentido ao útero fértil da mulher?
Nada disto.
Tudo pertencia às negociações secretas entre Cuba e os EUA.
Um senador americano, Patrick Leahy (do Comitê de Defesa) teria sido parte de
uma ação de inseminação artificial com o sêmen de Gerardo. A implantação do
embrião foi feita no Panamá às expensas do governo cubano.
Agora o filho de Adriana restabelece o elo na história.
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