Alguém já havia tido algum conhecimento sobre Alberto
Nisman?
Muito provável que não. A maioria dos brasileiros, mesmo
aquele bem informado, não sabe a respeito. Os Argentinos sim. Devem saber.
Agora saibam como tomamos conhecimento sobre Alberto Nisman.
Jornais, rádios, televisões, blogs e outros rastilhos, diziam: morreu promotor
que associava governo Kirchner à manobra para esconder a participação do Irã
nos atentados contra entidades judaicas na Argentina.
O promotor foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, no
seu apartamento. Aí estava montada a arapuca comunicacional. Antes da
investigação, realçava-se a suspeita que a autora do crime teria sido a
presidenta Argentina.
Acrescente a isso o fato, que interessa ao governo de Israel,
associar o Irã, o inimigo de maior potencial, ao ato terrorista na Argentina. E
considere que o fato aconteceu há 20 anos, portanto num intervalo em que muita
coisa mudou. Na América do Sul, na Argentina, no Oriente Médio, em Israel e no
Irã.
Agora é investigar o que de fato aconteceu com o promotor.
Há uma possibilidade que a justiça argentina, poder independente, declare
suicídio. Enquanto isso o governo Argentino tratou logo de tornar público o
relatório do promotor com todas evidências. Ou não evidências.
A questão é o tratamento da informação, por meios que detém
o domínio da comunicação, como matéria de ataque e defesa e não como exposição
da realidade. Mas aí vem uma discussão necessária. A crítica ao modelo
principal de condução da informação e conhecimento na nossa civilização.
Aliás, a questão do Charlie Hebdo foi um momento especial ao
que se denomina regulação da mídia. A liberdade e o controle como
contraditórios que ora serve de argumento a um lado para, logo em seguida, servir
ao outro lado.
Afinal tudo é uma questão política. Vamos lembrar na
liberdade que o Sistema Globo defende como fundamental. Mas quando aquele
pastor chutou a imagem de uma santa na Record, a Globo pediu punição e o rolo
compressor foi tal que o pastor foi demitido, a outra emissora pediu desculpa.
Liberdade e controle a serviço da concorrência comercial é
um péssimo uso destes parâmetros sociais e políticos. Por isso a regulação de
mídia centra-se essencialmente na questão do monopólio da informação. É preciso
que ocorra a pluralidade de meios, temas, conteúdos e visões diferentes.
Os membros da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e
Televisão já chiaram que a regulação econômica pode enfraquecer economicamente
os veículos de comunicação. E não disseram mentira. Acontece que isso tem muito
a ver com o modelo de negócio destas empresas oligopolizadas. E a regulação
nasceu nos EUA, exatamente em razão dos monopólios e oligopólios, ou o que
tanto se dizia como trustes.
A regulação, enfim, é pluralidade, estímulo à democracia, check and balances no conteúdo e
técnicas, um meio público que abra possibilidades para investigação, apuração,
tratamento e divulgação da informação e do conhecimento.
Em última análise o destino da liberdade e democracia no
campo das mídias é um contraditório, onde a informação seja tratada cada vez
menos como mercadoria ou um bem econômico e cada vez mais como traço da
civilização de acesso universal. Onde a verdade não é um pântano acumulado, mas
um rio que circula e se transforma como se move a natureza de todas as coisas.
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