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sexta-feira, 24 de abril de 2015

A SEDE DO TERRORISMO GLOBAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando se adota uma ideia do mundo o normal é que tomemos referências para orientar tais concepções. Uma parte de nós tenta refletir, busca se informar em fontes independentes e até checa os seus conceitos preliminares até formular a sua ideia de mundo. Mas há uma parte, no meu entender significativa, que não reflete, segue trilhas que demonstram tendências familiares e pessoais e apenas aprofunda este vício de origem.

Uma parte dos que desfilaram nas ruas com o descontentamento ao governo Dilma, era desta natureza obtusa, irrefletida. Vale salientar que existe uma matriz ideológica a fomentar tais obtusidades e por isso frases em inglês, defesa do estilo de vida Miami, frases contra Cubas, Venezuela e até a Bolívia.

Pesquisas feitas com esta parte dos desfilantes mostraram um quadro desolador de preconceitos, aversão a tudo que não se oriente pelos EUA, protestam contra as políticas de proteção social, negam o poder legítimo dos eleitores nordestinos, perseguem a luta por igualdade de gênero, a luta pela liberdade de opção sexual. E o pior de tudo, acreditam linearmente no que os seus canais de formulação ideológica dizem.

Nesta semana o pensador americano Noam Chomsky ao ser entrevistado num encontro internacional trouxe informações fundamentais para se entender o papel político e terrorista dos EUA ao citar três exemplos: Nicarágua, Honduras e Cuba. Vale salientar que o Brasil, mesmo de forma não muito firme, sempre esteve ao lado dos países agredidos desde que se instalou a democracia no país. E até mesmo quando na ditadura militar as lideranças adotaram políticas externas mais independentes do mando americano.

O primeiro se referia à Nicarágua, ainda no tempo do governo Reagan:

Por exemplo, em 1985, o presidente Ronald Reagan invocou a mesma lei (se referia às medidas de Obama contra a Venezuela) dizendo: “O Estado da Nicarágua é uma ameaça à segurança nacional e à sobrevivência dos Estados Unidos”. Mas nesse caso era verdade. Porque ocorria um momento em que o Tribunal Internacional de Justiça tinha ordenado aos EUA que pusessem fim aos seus ataques contra a Nicarágua através dos chamados “Contras” que agrediam o governo sandinista. Washington não o levou em conta. Por sua vez o Conselho de Segurança das Nações Unidas também adotou, nesse momento, uma resolução de que pedia, a “todos os Estados”, que respeitassem o direito internacional. Não mencionou ninguém em particular, mas todo mundo sabia que se estava a referir aos EUA. O Tribunal Internacional de Justiça tinha pedido aos Estados Unidos que pusessem fim ao terrorismo internacional contra a Nicarágua e que pagassem reparações muito importantes a Manágua. Mas o Congresso dos EUA o que fez foi aumentar os recursos para as forças financiadas por Washington que atacavam a Nicarágua. Isto é, a administração Reagan opôs o seu método à resolução TIJ e violou o que este lhe estava a pedir. Nesse contexto, Reagan pronunciou um célebre discurso dizendo que “os tanques da Nicarágua estão apenas a dois dias de marcha de qualquer cidade do Texas”. Ou seja, declarou que havia uma “ameaça iminente”.

Depois Chomsky falou sobre o caso Honduras:

Por exemplo, Obama é praticamente o único líder que deu apoio, em 2009, ao golpe de Estado em Honduras, que derrubou o governo constitucional (de Manuel Zelaya) e que instalou uma ditadura militar que os EUA reconheceram. Isto é, podemos deixar de lado a conversa sobre a democracia e os direitos humanos; não têm nada a ver: o esforço era para destruir o governo.

E agora Chomsky fala sobre os EUA e Cuba frente às iniciativas americanas para distender a situação até então praticada por eles:

Não se trata de “normalização”. É, primeiro, um passo para o que poderia ser uma normalização. Ou seja que o embargo, as restrições, a proibição de viajar livremente de um país a outro etc., não desapareceram...Mas efetivamente constitui um passo para a normalização, e é muito interessante ver qual é a retórica atual da análise de Obama e da sua apresentação. O que disse é que cinquenta anos de esforços “para levar a democracia, a liberdade e os direitos humanos a Cuba” fracassaram. E que outros países, infelizmente, não apoiam o nosso esforço, de tal maneira que temos de encontrar outras formas de continuar a nossa dedicação à imposição da democracia, liberdade e direitos humanos que dominam as possas políticas benignas com o mundo. Palavra mais, palavra menos, é o que disse. Quem leu George Orwell sabe que quando um governo diz alguma coisa, é preciso traduzi-la para uma linguagem mais clara. O que disse Obama significa o seguinte: durante cinquenta anos fizemos um terrorismo de grande escala, uma luta econômica sem piedade que deixaram os EUA totalmente isolados; não pudemos derrubar o governo de Cuba nesses cinquenta anos, portanto, tudo bem se encontramos outra solução? Essa é a tradução do discurso; é o que realmente quer dizer ou o que se pode dizer tanto em espanhol quanto em inglês. (...) Efetivamente, os EUA fizeram uma campanha grave de terrorismo contra Cuba sob a presidência de John F. Kennedy; o terrorismo era extremo naquele momento. Há um debate, às vezes, sobre as tentativas de assassinato de Fidel Castro, e fizeram-se ataques a instalações petroquímicas, bombardeamento de hotéis – onde sabiam que havia russos alojados – mataram gado, etc. Ou seja, foi uma campanha muito grande que durou muitos anos. E mais, depois de os EUA terminarem o seu terrorismo direto apareceu o terrorismo de apoio, digamos, com base em Miami nos anos 1990. Além da guerra econômica, iniciada por Eisenhower, ganhou realmente impulso durante a era Kennedy e intensificou-se depois. O pretexto da guerra econômica não era “estabelecer a democracia” nem “a introdução de direitos humanos” era castigar Cuba por ser um apêndice do grande Satã que era a União Soviética. E “tínhamos que proteger-nos”, da mesma maneira que “tínhamos de nos proteger” da Nicarágua e de outros países...”


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