O grande fenômeno dos BRIC´s, entre as particularidades
nacionais, étnicas, culturais, sociais e econômicas, é essencialmente parte do denominado Capitalismo Desenfreado pelo
economista indiano Prabhat Patnaik. O capitalismo, para este economista, não
teria mais restrições sociais e políticas como a da aristocracia, do operariado
em formação e dos capitais nacionais.
A superação destas restrições acontece com a Globalização
Financeira que, praticamente, superou os contrários pela natureza universal
atingida. Assim este capitalismo global tem suas características imanentes agora
expressas numa “liberdade” sem freios. E esta liberdade destrói formas humanas
de viver antiguíssimas substituindo-as pelos seus parâmetros capitalistas de
ser.
E o economista identifica algumas de tais características do
capitalismo desenfreado: mercantilização numa escala nunca vista (saúde, educação,
cultura, religião, vida pública etc.); destruição implacável da pequena produção
(produções tradicionais, populares, pequenas empresas, riquezas nacionais,
etc.); enorme aumento da desigualdade econômica (não só em riqueza, mas também
em rendimento); aumento da fome mundial (tendência à super-produção sem
consumidores) e agressão às formas democráticas de sociedade (financiamento de
movimentos fascistas, financiamento privado das eleições, etc.).
A se considerar o que foi resumido do pensamento do
economista indiano, nestes dias uma publicação da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE – formada por 34 países que aceitam os
princípios da democracia representativa e a economia de livre mercado ou seja
Europa, América do Norte, Austrália, Japão, incluindo os países liberais da
América Latina como México e Chile) a respeito do consumo de álcool nestes
países.
A pesquisa é relevante porque revela o ambiente psicológico,
social e cultural do que seria considerado a “ponta de lança” do “capitalismo
desenfreado”. Estes países se conformam como o mais avançado modelo do
capitalismo contemporâneo, em outras palavras. E o que temos na pesquisa.
Nestes países o consumo de álcool é cerca de duas vezes a
média mundial. Do ponto de vista per capita, em média, nestes países, se
consome 9,1 litros por ano. E mais ainda, se verifica que o consumo atinge
segmentos específicos destas sociedades, quando o maior consumo se concentra em
apenas 20% da população.
A se considerar como espelho da sociedade capitalista
desenfreada, extrai-se um componente da educação mercantilizada o fato (talvez
não superável apenas pela educação) de que o consumo de álcool tende a se
concentrar nas elites bem-sucedidas ao mesmo tempo que o consumo perigoso
atinge a base da pirâmide econômica. As pessoas com mais educação e maior nível
econômico tendem a beber mais. No entanto os mais pobres tendem a maior risco
de consumo perigoso.
Isso significaria um desarranjo endógeno das sociedades
capitalistas de ponta, onde os custos decorrente do consumo perigoso do álcool
impacta 1% do PIB dos países de alta e média renda; em todo mundo é a quinta
causa de mortes prematuras, responde por 1 e cada 17 mortes, deficiências
especialmente em homens, repercute em mais de 200 tipos de agressões à saúde e
tem repercussão sobre terceiros como causa de acidentes de trânsito, violência
e afetando a gestação de crianças e o seu futuro social.
O relatório da OCDE trouxe um fato positivo uma queda
pequena na média do consumo de álcool, mas quando se observam os números por
dentro, na verdade houve um agravamento social no consumo. Nestes últimos anos
houve um deslocamento do consumo de álcool para jovens e mulheres, ambos grupos
muito mais vulneráveis. Aí neste grupo os efeitos sociais são imediatos
(trânsito, violência, doenças crônicas etc.) e afetam mais o futuro das pessoas
(ou seja, novas gerações mais enfraquecidas).
Nos últimos anos a percentagem de crianças de 15 anos que já
faz uso de álcool passou de 66% para 70% e a percentagem destes jovens que se
embriagam já de 43% para meninos e 41% para meninas. Deste modo é que o
capitalismo desenfreado (bebida alcoólica é um bem de consumo muito bem
divulgado no marketing de venda) firma o seu modo “desenfreado” de ser.
Agora considerem o seguinte: se agrotóxicos é do interesse
dos produtores, se as sementes geneticamente modificadas são do interesse da
Monsanto, se a exploração de petróleo, em larga escala, alavanca corporações,
se o desmatamento se transforma em pastagem e esta em carne, se os pesqueiros
nos mares pertencem à exploração desenfreada, por que o álcool e as substâncias
psicoativas não absorveriam o interesse capitalista?
Não nos enganemos: a chamada guerra do tráfico de drogas é
um mero jogo “mafioso” (bem no estilo americano) de troca e distribuição desta
mercadoria. As máfias não estão fora do capitalismo, elas são instituições imanentes
a ele. Por isso o ex-Presidente Mujica do Uruguai entendeu a lógica e a
transformou num jogo aberto (tentando controla-lo pelo Estado).
Enfim: a tese do Prabhat Patnaik é de que não existem formas
de amenizar os efeitos imanentes do capitalismo. A única forma é a sua
superação. E isso as novas gerações vão ter que pensar uma vez ultrapassados os
efeitos negativos do fim das experiências que tentaram superá-lo, especialmente
na União Soviética e na China.
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