Com os olhos marejados, nariz vermelho, a face de sofrimento
um jovem, aqui em Paracuru, levantava uma questão central para o futuro do
país. Uma questão que machuca mais do que nunca pois praticamente exonera o
compromisso social com a demanda da família do rapaz.
A sogra, em franca insuficiência cardíaca, precisava de
urgente troca de uma das válvulas do coração. Antes que imagine tudo de ruim,
mire-se na explicação mais adiante. Ela demandava o direito dela à saúde dentro
do Sistema Único de Saúde, de acesso universal, gratuito, igualitário e com
participação social.
Depois de um périplo de empurra-empurra, incompatível com o
conceito de sistema, era jogada de um lugar para outro que não resolvia e nem
encaminhava a solução. Finalmente chegou a um hospital conveniado com o SUS na
capital cearense.
Para espanto familiar, não havia quem recepcionasse a
paciente, ninguém chamava um profissional e, finalmente, uma supervisora por
pressão familiar descobriu que no andar dos médicos, nenhum sinal deles havia.
E mais ainda, quando alguém apareceu não cuidou de encaminhar o caso.
Simplesmente enrolou a família no seu desespero.
Como se tratava de gente com prestígio social e político um
amigo foi acionado, telefonou para o “colega” no hospital que então partiu para
a ação que até então enrolara.
Continue comigo.
Uma das figuras mais populares de Paracuru, aposentado como
diretor da Universidade Federal, grande músico, detentor de enorme poder de
comunicação tem igual problema numa válvula cardíaca. Aí pelos, também
credenciados, Planos de Saúde.
O que aconteceu?
Um caso de estenose foi diagnostico há cinco anos e o médico
simplesmente não operou e deixou o estreitamente evoluir até um estágio
extremamente perigoso, com grande possibilidade de morte súbita. Em seguida não
atendeu mais ao paciente, a secretária passou a avisar que ele estava em
formação no exterior.
Na última revisão de imagem da lesão da válvula, ele ouviu o
tal doutor trabalhando normalmente. Quando foi a um cirurgião mais consciente,
este ficou perplexo com a atitude do “colega”. Francamente explicou que o plano
paga pouco pelo procedimento e o cara havia fugido do problema. Mas no extremo
da covardia e o espírito de ave de rapina jamais deixou claro para o paciente
que procurasse outro profissional. Simplesmente deixou que ele evoluísse até o
risco de morte.
Fique mais um pouco.
O sogro do rapaz que, então, revelou todo o desespero do seu
choro, aconteceu aqui mesmo em Paracuru. Um cirurgião que serve à cidade
simplesmente adiou a extração de um câncer de pele (o tipo mais agressivo o
espino-celular) para quarenta dias. E não adiantou o pedido de outro colega,
pai do rapaz.
Qual, então, o denominador comum das três histórias. O SUS e
Planos de Saúde foram tomados por um conjunto de abutres que no limite só pensa
em negócio. Em ganhar rios de dinheiro numa fragmentação de procedimentos que
reduzem a efetividade de qualquer tratamento e aumenta os danos à saúde.
Enfim, o modelo liberal e capitalista de exercício da
medicina tem se mostrado perverso, tolhendo a liberdade, a segurança e o futuro
da humanidade. Ou nos voltamos aos fundamentos do Controle Social verdadeiro,
não chapa branca, que bebe suas lutas nas demandas da sociedade e que jamais se
torna um capacho a serviço de prefeitos e vereadores, ou este modelo só produz
choro e desespero.
Não precisamos entrar numa caça às bruxas e nem no andar
meramente punitivo, mas precisamos antes de tudo colocar o interesse de todos à
frente da exploração comercial da saúde pública. Não se trata apenas de
desonestos profissionais de saúde, mas de um modelo que os estimula a isso. Já
vimos isso no tempo do INAMPS e estamos novamente na linha deste comportamento.
Talvez não explique tudo, mas parte da revolta desses
profissionais com o mais Médico venha desta antiética prática do negócio com a
doença. Negócio que se alimenta nos doentes reduz a efetiva do tratamento e
causa mais danos à saúde de mortalidade por causas evitáveis.
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