Fogos alargando a noção de distância ressoam desde a praia.
É o dia de São Pedro, uma procissão católica em face do pescador. Frágeis seres
da terra a balançar nas ondas afogáveis onde as jangadas furam o espaço como
uma flecha indígena.
São Pedro o pescador. Tão simples na escala hierarquizada das
tribos de Israel. Ali a tecer as malhas da rede de pesca. Na margem onde
termina o sólido e começa o líquido.
Alguém como nós. Lutando pela vida. Trabalhando e criando
margem onde os mercadores engordam. Engordam em moedas. Dinheiro que representa
o poder de quem o detém sobre o trabalho de Pedro o Pescador.
Sobre José o carpinteiro. Sobre Madalena e seu corpo de
hematomas a pedradas. E Pedro é isso. Um ser como os simples da terra. Temeroso
da fúria armada dos que transformam trabalho em dinheiro e com esta unção de
poder afoga a fé de Pedro.
E por três vezes negou o que vinha apostolando apenas por
terror à espada. E mais uma vez demonstrou o quanto preservou sua integridade
física abdicando da palavra. Das ideias. Da divulgação pelas terras dos senhores
do sínodo hebreu e das hostes romanas.
E, no entanto, foi este desvio dos enormes obstáculos.
Aquele que temeu. Que se acovardou afrontando-se com a ferida do ferro frio. Foi
ele, que ao centro do Império migrou e, no coração dele, foi pedra para se
erguer a vontade de muitos.
Todos frágeis como ele. Como nós diante destas instituições
pervertidas, poderosas, insanas que carreiam ilusões e fazem da terra e sua
natureza essencial objeto das pedradas a Madalena. Somos Pedro.
É só esperar. Somos alicerce a substituir a ruína imoral do
capitalismo. A embriaguez desta segurança baseada em moedas. Moedas.
Todas elas enfileiradas numa corrente de faz de conta. Com
elos se rompendo por todos os lugares e momentos. As podres moedas que não
passam de uma falsidade ideológica sobre os resultados do trabalho de todos.
Pedro o Pescador. A pedra que se solidificou como crosta da
terra.
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