J. Flávio Vieira
Quem , por acaso, se detenha em fazer
um catálogo dos
muitos logradouros de
uma cidade há, certamente, que se deparar com múltiplos métodos de batismo. Por
um lado, existe aquele batistério
oficial que vai , pouco a pouco, denominando as mais diversas localidades com
nomes , a mor parte da vezes, totalmente apartados da história local. Quebram a
doce tradição popular e sapecam epítetos homenageando os poderes político e
econômico da cidade. Assim, aqui em Crato, a Rua da Pedra Lavrada se transformou em Pedro
II; a Rua das Laranjeiras em José Carvalho; a Rua Grande em João Pessoa; a Rua
do Fogo em Senador Pompeu; a Rua das Flores em Dom Quintino; o Sítio Quebra em
Vila São Francisco. Por outro lado, persiste um movimento de contra reforma, de
base bem popular, buscando,
desesperadamente, manter as denominações tradicionais e, mais, tentando, de forma organizada e brejeira, alcunhar os novos bairros que vão,
inevitavelmente, surgindo, impulsionados pelo progresso e aumento da população.
O “Sertãozinho”, as “Malvinas”, a “Vila
Caveirinha”, a “Vila Guilherme”, aqui em
Crato , são exemplo de novos lugarejos batizados , mais recentemente, pela doce
língua do nosso povo. Em pouco, certamente, a Câmara Municipal ( que se atém
basicamente em dar títulos de cidadão e nome de ruas) no afã de puxar o saco de
algum poderoso , lavrará leis empurrando, goela abaixo, novas denominações ,
divorciadas , totalmente, da história
local.
Talvez,
como uma reação normal, a estes abusos, o povo simples cratense, untado da mais pura irreverência, tenha, paralelamente, criado um “Roteiro
Lúbrico –Licencioso dos Logradouros Cratenses”. No fundo, ele percebe que, se desviando para o jocoso,
o lascivo, o sensual, o codinome ganha alma e energia novas e dificulta,
sensivelmente, a troca , a reclassificação. Convido meus leitores junto comigo, a fazer, agora, um Tour por
esse Crato mais erótico e libidinoso. Afivelem os cintos e as braguilhas !
Comecemos
a nossa viagem pela “Vila dos Priquitos”, já reclassificada, pelos locais de “Vila
do Bom Nome” e bota bom nome, nisso! Fica o paraíso logo acima da Caixa D´água e, por incrível que
pareça, próxima a “Vila da Bunda Lavada” , a “Vila do Cu Aberto” e a do “Peito
Vazando”. Todas estas têm uma vizinhança mais que adequada à
lascívia : “A Vila do Pau em Pé” . Para controlar possíveis e previsíveis
libações, estrategicamente, nas proximidades, foi que se localizou, com muita propriedade: “O Carrapato”.
Atrás
do Colégio Diocesano, lembram os cratenses, existe o “Rabo da Gata”. Anos
atrás, uma madama da cidade, foi perguntada, em Fortaleza onde morava. Querendo
mostrar sua nobiliarquia caririense informou que residia num bangalô na Rua
Nélson Alencar. Como o interlocutor não lembrasse bem onde era o local, pois
saíra do Crato há muitos anos, ela, de peito inflado de silicone e empáfia,
explicou :
---
Moro logo ali, numa mansão, embaixo do “Rabo
da Gata” !
Descendo das Guaribas, pelo “Campo Alegre”, existe
o “Pelado” que felizmente fica muito distante do “Cipó dos Tomás” que é lá
perto da Ponta da Serra . O “Cipó dos
Tomás”, graças a Deus, fica também bem longe do “Fundão” e também distante do “Pelado” , se
fronteiriços poderiam trazer graves questões legais e morais.
Por
outro lado, na saída de Crato, lembram os mais velhos, se situa “O Pau do
Guarda” que, estrategicamente , logo abaixo, como era de se esperar, se limita com “O Saquinho” . Por incrível que possa parecer, logo atrás do “Pau
do Guarda” tem a Rua Ana Triste, o que fez, um dos nossos filósofos cotidianos
a estranhar tal vizinhança e o sobrenome sorumbático da nossa Ana. Com todo
respeito ao nosso Tristão Gonçalves, o nosso herói confederado, o filósofo concluiu pensativo :
---
Logo perto do “Pau do Guarda”? Ora ! Essa Ana só é triste porque quer...
Crato,
17/08/15
Nenhum comentário:
Postar um comentário