“A
culpa não é minha. Eu votei no Aécio”.
A
frase estampava a camiseta de Ronaldo Fenômeno em um desse
carnaprotestos que animaram o terceiro turno instalado no país. A
ideia refere-se aos escândalos do governo Dilma e à crença de que
tudo seria diferente com a eleição do netinho de Tancredo – o
político diferenciado, detentor de honestidade franciscana, o
idealista que encarna a ética como poucos, enfim, quase um Mujica
mineiro.
A
culpa pela corrupção, portanto, é dos que ousaram não votar nesse
bibelô de retidão moral. Eleitores do PT seriam corresponsáveis
pela corrupção no país, enquanto os iluminados aecistas estariam
automaticamente absolvidos. Um conceito maravilhoso de democracia.
No
ano eleitoral, a antes inabalável ética do senador passou a ser
questionada. Detratores andaram dizendo que ela invariavelmente
escorrega quando se trata de amigos, família e tráfego (eu disse
tráfego) aéreo. Tremenda injustiça. O aeroporto público de
Cláudio (MG), por exemplo, foi construído pelo governador mineiro
dentro da fazenda do seu tio, o seu Múcio, que, por sua vez, deixava
as chaves com seus sobrinhos. É a meriTIOcracia. É a tradicional
família brasileira tomando conta do patrimônio do Estado,
demonstrando seu apreço pela coisa pública. Um case de sucesso de
Parceria Público-Privada.
Recentemente,
novas turbulências surgiram no céu de brigadeiro da ética aecista.
E são inúmeros problemas com as vias aéreas. Enquanto governador,
Aécio usou aeronaves oficiais 1.430 vezes, muitas para fins
particulares. Só no aeroporto do Tio Múcio foram mais de cem pousos
e decolagens. Em pelo menos 198 viagens, Aécio nem estava presente.
Quietim, com discrição mineira, ofereceu caronas para parentes,
empresários e parças de balada. Êta avião bão, sô !!!
Conheça
alguns brothers que viajaram nas aeronaves semiprivatizadas: Ricardo
Teixeira (CBF), Ray Whelan (FIFA), Roberto Civita (VEJA), Luciano
Huch (Globo), Alexandre Accioly (padrinho de casamento de Aécio e
parceiro das nights), Boni (ex-Globo). Além dessa gente boa, o povo
mineiro também pagou viagens de Sandy e Júnior, Milton Gonçalves,
Ze Wilker, FHC, Roberto Irineu Marinho e a ex-mulher de Aécio. Mas
eles não têm culpa. Eles só voaram com Aécio.
Num
vídeo em que convoca os brasileiros pra uma micareta antipetista,
Aécio adaptou uma frase de Castro Alves e bradou emocionado: “A
rua é do povo, como o céu é do avião”. Mas a adaptação
poderia ter sido mais completa e fidedigna à realidade: “O céu é
do avião, o avião é meu, o aeroporto é do meu tio, assim como o
dinheiro é do povo”.
Como
se vê, a ética do tucano pode ser contada a partir desse recorte
que abrilhanta sua biografia de bom moço: família, amigos e aviões.
Não falemos de helicópteros.
(*)
É um perfil de humor criado na web pelo cientista social e
jornalista João Filho (artigo publicado na Revista Carta Capital).
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