AS CIDADES VIVIDAS – BARRO DE ZÉ INÁCIO
As
rotas dos sertões dos Cariris são amplamente fronteiriças às alternâncias de
altitudes do relevo e da divisão política dos estados. Ali a confluência de
quatro dos nove estados nordestinos: Piauí, Pernambuco, Ceará e Paraíba. Mas se
aconselhando que o Rio Grande do Norte fica bem perto.
O
Barro de Zé Inácio não é um território contínuo. A maioria das cidades contínua
é, mas o Barro se diferencia. Três pontos espaciais dão significância ao
destino, tanto dos que no território nasceram como aqueles que chegam e outros
que se vão.
Os
três pontos do Barro são o Arruamento, a Serra do Ouricuri e o Riacho do Meio.
Os três em conjunto têm um significado espiritual traduzido nas simbologias desde
o Vale do Indo, passando pelos corpos hídricos da Mesopotâmia e as civilizações
das águas do Mediterrâneo.
Símbolos
do movimento da matéria e daquele que nunca se move e tudo cria. O Pai, o
Filho, o Espírito Santo. O criador Brahma, o preservador Vishnu, o destruidor
Shiva. A arte do encontro com a comunicação, a expressão e a expansão.
Zé
Inácio conformado nos determinantes históricos do Arruamento: coiteiro de
Lampião, operador militar de Floro Bartolomeu, estabelecido na linha política
do Padre Cícero. Ousado, com o desiderato do avanço e da vingança, de fazer
filho com as mulheres e de retirar deste mundo, os filhos dos outros.
O
Riacho do Meio como vértice do triângulo, é o movimento, a revelação do
presente, o sótão do passado e a visão panorâmica do futuro. Da varanda para o
infinito sertão, lá onde a vista plena alcança o Serrote do Cachimbo, quando
fuma, adiante vem chuva.
A
Serra do Ouricuri é híbrida, parece que existe noutra ordem que não a carne da
Sede (o poder político) ou do Riacho do Meio (a contagem do tempo). Espiritual,
não se explica pelas partículas de matéria e energia, não é um tempo, apenas o
simulacro do espaço.
Nas
ladeiras da Serra a civilização dos automotores vai ao mundo dos vivos com um
langor de dúvidas sobre a realidade da combustão e da explosão que movimenta
molhos de ferro, plásticos e borracha. Um gemido contínuo se espalha nos demais
pontos do Barro de Zé Inácio.
No
Riacho do Meio a criação desperta com o cancão falante do velho Julião e anunciando
a história da travessia da África nos porões negreiros. E por isso mesmo ele
teve dois filhos idênticos. Um adotou os ritos da masculinidade imposta e outro
a feminilidade expressiva em gestos e amores. Ambos migraram ao Maranhão.
A
Sede por muito tempo chorou o assassinato de Zé Inácio, fugitivo a conselho do
Padre Cícero para Goiás. Ali encontrou seu destino de violência, carregando
muito dinheiro, na companhia de Sinhô Pereira e Luiz Padre. A inveja cuspiu
chumbo e enterrou o coronel nos sete palmos de profundidade.
O
viajante que chegue ao Barro vai encontrar tudo muito diferente em fantasias e
escolhas de indumentárias (celulares e esta tela de facebook). Mas se encontrar
os três vértices do triângulo, logo compreenderá o significado desta trindade.
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