Independentemente da
raça, cor, sexo, religião, ideologia, credo, preferência clubística ou
política, os milhões de adeptos de uma “geladinha” (cerveja) ou da “marvada”
(cachaça), professam uma certeza absoluta: dia seguinte à homérica farra,
quando se excedem no consumo e acordam com aquele terrível “gosto de cabo de
guarda-chuva na boca”, nada mais apropriado pra curar a “ressaca braba” (que às
vezes dá vontade até de morrer), do que “forrar o estômago” com um revigorante
e bendito caldo (de mocotó, carne moída ou costela de boi), no capricho e
tinindo de quente, capaz não só de matar todos os vermes que “encontrar na
descida”, como também “levantar ou por de pé até defunto”.
No entanto, há que se ter cuidado com os “caldos da vida”. Sim, porque existem duas espécies de caldo: 01) o “caldo verdadeiro”, original, genuíno, que é aquele bem preparado, repleto de temperos e condimentos, capazes de lhe dar cheiro, sabor e “sustância”, e ainda operar o milagre de fazer seu usuário “renascer” das cinzas, a ponto de, sob o pretexto de “lavar o peritônio”, tirar o gosto ali mesmo com uma outra geladérrima, recomeçando a farra; e, 02) o “outro caldo”, o caldo falso, o caldo de segunda, o caldo de araque, que é aquele que é só uma espécie de água morna, desprovido de temperos e condimentos, sem gosto, sem cheiro, sem poder revigorante e, enfim, sem nenhuma serventia, capaz até de “bater e voltar”, ou seja, de fazer com que o seu usuário “bote até os bofes pra fora”, na hora. Esse, por suas características peculiares, findou sendo designado pelos biriteiros da vida com a alcunha de “caldo de bila” (portanto, quando você ouvir a expressão “caldo de bila”, lembre-se de que é algo fraco, inútil, sem serventia).
E a “expressão” pegou de uma maneira tal, foi tão bem assimilada por gregos e troianos, que quando queremos manifestar nosso descontentamento com algo ou alguém que não corresponde às nossas expectativas, em qualquer competição ou atividade, imediatamente professamos: é “mais fraco que caldo de bila”.
Tomemos como exemplo a Fórmula 1, um esporte por demais admirado no mundo todo e que, para nós brasileiros, num determinado momento da história, foi motivo de orgulho e respeito, quando tínhamos a nos representar nos mais diferentes autódromos dos quatro cantos do planeta os Emerson Fittipaldi, Nélson Piquet e Ayrton Senna da vida.
Quem não lembra das manhãs de domingo em que renunciávamos à praia, clubes, balneários, açudes, cinemas ou um outro divertimento qualquer, só pra ficar por duas horas frente à telinha, beliscando uma cervejota com tira-gosto de PANELADA, SARAPATEL e BUCHADA, vibrando com o “pé-pesado” ou as ultrapassagens sensacionais dos nossos “homens voadores”, campeões mundiais em seguidas temporadas ??? Quem não lembra dos pegas fantásticos e espetaculares entre Fittapaldi X Jack Stuart, Piquet X Mansel, Senna X Prost, Senna X Piquet, dentre outros ???
Foi então que o destino nos pregou aquela peça terrível, aquele momento dantesco, nos levando prematuramente o Ayrton Senna, numa calma manhã de domingo, durante uma corrida aparentemente tranquila, na Itália, após a quebra da barra de direção de seu carro, a mais de 200 quilômetros por hora.
Imediatamente a TV Globo, em razão principalmente dos milhões de dólares despendidos na transmissão de cada corrida, e temendo a perda dos exuberantes patrocínios, tratou de “fabricar” da noite pro dia um substituto para o Senna; e como não havia muitas opções naquele momento, literalmente foi “decretado” pela cúpula da Globo e nos imposto goela abaixo, que um jovem piloto paulista, novato na Fórmula 1, seria o novo “ídolo” da torcida brasileira; e foi assim que tomamos conhecimento da existência de Rubens Barrichello, logo batizado pelo chefão de esportes da emissora (Galvão Bueno) de “Rubinho” (certamente que numa tentativa de torná-lo mais “palatável” ante os aficionados da categoria).
Daí pra frente todos nós sabemos a história de cor e salteado: apesar do hercúleo esforço da Globo em alavancá-lo, do generoso espaço lhe disponibilizado, de lhe arranjarem inclusive um lugar na disputadíssima e então imbatível Ferrari (à época detentora dos mais possantes e velozes carros da categoria), o que se via nas pistas era um piloto atabalhoado, lento, medroso, excessivamente burocrático, sem qualquer pegada, além de potencial e exímio “quebrador” de carros, os quais não conseguia “ajustar” nunca (quantas vezes vimos o tal “Rubinho” em desabalada carreira durante as corridas - SÓ QUE A PÉ E NA CONTRAMÃO - em busca do carro reserva ???).
Sem carisma, desprovido de empatia e simpatia, sempre com uma desculpa pronta para os recorrentes fracassos nas pistas, inventor de uma comemoração pra lá de ridícula (uma tal de “sambadinha”) quando ocasionalmente ganhava alguma corrida, Barrichello aos poucos foi se eclipsando, sumindo, escafedendo-se.
Assim, a Globo optou por uma descarada inversão de valores: à falta de resultados, o locutor global tratava de potencializar o fato de “Rubinho” às vezes ficar entre os 10 que obtiveram melhor classificação nos treinos, além de insistir e persistir em nos informar ser ele o piloto que disputou mais de trezentas (300) corridas de Fórmula 1 (olvidando, no entanto e propositadamente, de nos cientificar dos resultados ou da relação entre o número de vitórias obtidas e os grandes prêmios disputados).
Por essa e outras é que poderíamos associar Rubens Barrichello ao nosso famoso “caldo de bila”: não fede, não cheira, não tem gosto, não propicia qualquer serventia ou bem-estar, enfim, um blefe portentoso.
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