E de
repente, de uma área não muita afeita a manifestações da espécie,
porquanto povoada por atletas,
“machões sarados”, aparentemente embrutecidos, e ainda por cima
praticantes de um esporte onde o contato físico forte e ríspido é
uma constante (o futebol), uma atitude inusitada, um laivo de ternura
e afeto, um “pequeno-grande” gesto, que parece ter passado
despercebido pela maioria dos que o vivenciaram, ao vivo ou via
telinha (pelo menos não se ouviu ou se leu nada, a respeito).
Deu-se
na frienta noite londrina, no novo e monumental estádio de Wembley,
por ocasião da partida final da Copa dos Campeões da Europa
(2010/11), quando se enfrentaram as tradicionais e valorizadas
esquadras do Barcelona (Espanha) e Manchester United (Inglaterra),
dois dos maiores expoentes do mundo futebolístico da atualidade.
Aos
fatos.
Quase
ao final do aguardado confronto (aos 43 minutos do segundo tempo),
que mobilizou adeptos do futebol em todo o mundo, com o jogo já
definido e o título assegurado em favor do excepcional Barcelona (3
x 1), o técnico Guardiola (ex-jogador do próprio clube), numa
atitude de grandeza e desprendimento, resolve prestar uma justa
homenagem ao seu correto “capitão”, o aguerrido zagueiro Puyol,
que, lesionado, não tivera condição de adentrar ao gramado, de
início.
Então,
faltando dois minutos para o término da pugna, convoca-o a
substituir um companheiro, com o claro intuito de, naquele momento
maior, no ápice daquela gloriosa jornada, braçadeira de capitão no
braço, fazê-lo erguer o troféu de campeão e, consequentemente,
aparecer para a posteridade nas TVs de todo o mundo, ao vivo e a
cores, e na primeira página dos principais jornais do mundo, dia
seguinte.
Providenciada
a substituição, daí a pouco o juiz determina o
término do jogo.
E foi então, no momento da premiação, ante um batalhão de
fotógrafos e centenas de canais de televisão de todo o mundo, que
se deu o inusitado, aquilo que denominamos um “PEQUENO-GRANDE”
gesto, pela espontaneidade e nobreza do ato: o guerreiro Puyol,
evidentemente que fugindo do script armado pelo técnico-amigo
Guardiola, mostra toda a sua humildade e excelência de caráter, ao
abdicar de tamanha honraria e delega ao discreto companheiro Abidal
(lateral esquerdo), o privilégio de erguer o troféu, como se fora o
verdadeiro “capitão” da equipe catalã.
Explica-se:
meses atrás, Abidal fora desenganado pelos médicos, em razão da
descoberta de uma grave e normalmente letal enfermidade (“câncer”
no fígado) e fora afastado sumariamente das atividades esportivas;
agora, após um tratamento pra lá de penoso, ali, ante um estádio
ocupado por 80 mil pessoas e com a partida sendo transmitida pra
bilhões de telespectadores em todo o mundo, além da confiança do
técnico Guardiola em escalá-lo e mantê-lo durante toda a partida,
Puyol, o “capitão” de todos eles, que entrara ao final do jogo
unicamente pra exercitar o que lhe conferia a patente de capitão,
humilde e simbolicamente transferia pra ele, Abidal, o privilégio de
erguer o troféu de campeão.
Uma
cena de cortar corações e levar qualquer um às lágrimas. E,
embora alguns teimem em afirmar que “homem que é homem não
chora”, acreditem, não resistimos à cena e ante os dois filhos
adolescentes, também emocionados, “abrimos o berreiro”. Uma
atitude de “homem” (do
Puyol),
difícil de encontrar por essas bandas (e prestamos esse depoimento,
sem nenhum constrangimento).
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