O lançamento do livro de Geraldo Urano estava marcado para as vinte horas, em uma escola cujo nome não lembro.
Chegamos um pouco antes, para checar o local e fazer as marcações do palco. Um público razoável, cerca de umas cinqüenta pessoas, já se fazia presente. Soubemos, então, que após o recital-lançamento haveria uma cantoria com Pedro Bandeira. Essa foi a primeira vez que vi o famoso “príncipe dos poetas populares” ao vivo.
As oito em ponto, começamos o recital. Bem simples. Eu vestia uma calça de malha-colante preta e uma camiseta também preta. Jackie, vestido longo azul solto, bem solto. Carregados de maquiagem, ou melhor com máscaras feitas de tinta preta e pomada Minâncora.
O recital até que foi legal. Declamávamos os versos alternadamente:
Eu: Me procure em seu coração...
Ela: Esse é o local mais próximo onde você pode me encontrar ...
E Geraldo Urano, sentado ao lado, fumava e dava gargalhadas.
No final, aplausos.
Anunciamos que o livro estava à venda, a dez cruzados o exemplar. Ninguém apareceu para comprar. Muito menos quando o príncipe dos poetas populares subiu ao palco e começou a cantar, roubando toda a cena.
Geraldo tinha presenteado Pedro Bandeira com um livro e com mais uma dedicatória daquelas. Pedro Bandeira retribuiu com vários versos de improviso dedicados a Geraldo. Geraldo subia insistentemente no palco para abraçar o poeta. O poeta, alegre e sinceramente, retribuía. E tome mais versos dedicados a Geraldo.
Nunca vi Geraldo tão alegre. Da minha parte, nunca estive tão preocupado. E aí, como iríamos pagar a conta no bar do “caboclo cibernético”? Como iríamos voltar para o Crato?
Geraldo parecia tranqüilo, sereno, ainda abraçado a Pedro Bandeira, a quem fomos deixar no carro.
O jantar daquela noite e a bebida correram por conta da Associação dos Universitários.
Depois, no hotel, tive uma idéia brilhante, a nossa salvação. Socorro Moreira, prima de Geraldo, era a gerente da agência local do Banco do Brasil. Iríamos pedir a ela para vender alguns livros aos funcionários do banco, que com a sua interveniência, com certeza, não recusariam comprá-los. Ainda mais, por uma causa tão nobre.
Então, pude dormir tranqüilo.
2 comentários:
eia a bela saga de geraldo urano. manda mais, man! que eu tõ na espera.
Rafa,
Cara, essas lembranças todas nos rejuvenecem. O Normando faz também muita falta, não é? Quando estiver por ahi vou ver se consigo publicar unmas coisas dele (cordéis, desenhos, gravuras, etc.) Mantê-lo vivo aqui também!
Um grande abraço,
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