TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Deus X Liberdade (ou seria Teologia x Filosofia)








Ultimamente, tenho dedicado um pouco do meu tempo a ler textos filosóficos, desde Platão, Nietzsche e, mais demoradamente, o filósofo francês Michel Onfray (A Política do Rebelde), que tem causado um estardalhaço enorme nos meios editoriais ao publicar o "Tratado de Ateologia".
Abaixo, para leitura e reflexão dos nossos leitores, colei um fragmento da sua entrevista para a revista "Veja", publicada na edição de 25/05/2005.




Entrevista: Michel Onfray “Deus está nu”




O filósofo francês mais lido da atualidade diz que as três grandes religiões monoteístas vendem ilusões e devem ser desmascaradas como o rei da fábula de Andersen
Em um tempo em que a religiosidade está em alta, surpreende o livro que se encontra no topo da lista dos mais vendidos na França desde o mês passado, à frente até das biografias de João Paulo II: Tratado de Ateologia. Escrita pelo filósofo mais popular da França na atualidade, Michel Onfray, de 46 anos, a obra é um ataque pesado ao que o autor classifica como “os três grandes monoteísmos”. Segundo Onfray, por trás do discurso pacifista e amoroso, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo pregam na verdade a destruição de tudo o que represente liberdade e prazer: “Odeiam o corpo, os desejos, a sexualidade, as mulheres, a inteligência e todos os livros, exceto um”. Essas religiões, afirma o filósofo, exaltam a submissão, a castidade, a fé cega e conformista em nome de um paraíso fictício depois da morte.
Para defender essa argumentação, Onfray valeu-se de uma análise detalhada dos textos sagrados, cujas contradições aponta ao longo de todo o livro, e do legado de outros filósofos, como o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que proclamou, em uma célebre expressão, a “morte de Deus”. O filósofo escreve em linguagem acessível, a mesma que emprega ao lecionar na cidade de Caen, no norte da França. Ali criou uma “universidade popular” que atrai milhares de pessoas a palestras diárias e gratuitas sobre filosofia, artes e política. Gravadas pela rádio pública France Culture, as aulas de Onfray são sucesso de audiência. Os fãs o consideram um sucessor de Michel Foucault (1926-1984), o mais influente filósofo francês do século passado. Em seus livros, Onfray propõe o que chama de “projeto hedonista ético”, em que defende o direito do ser humano ao prazer. Uma de suas obras, A Escultura de Si, ganhou em 1993 o Prêmio Médicis, o mais importante da França para jovens autores. Onfray também tem detratores, que o acusam de repetir idéias ultrapassadas. Em dois meses seu Tratado vendeu 150.000 exemplares. De seu escritório em Argentan, Onfray concedeu a seguinte entrevista:
Veja - Em sua opinião, só o ateu é verdadeiramente livre?
Onfray
- Só o homem ateu pode ser livre, porque Deus é incompatível com a liberdade humana. Deus pressupõe a existência de uma providência divina, o que nega a possibilidade de escolher o próprio destino e inventar a própria existência. Se Deus existe, eu não sou livre; por outro lado, se Deus não existe, posso me libertar. A liberdade nunca é dada. Ela se constrói no dia-a-dia. Ora, o princípio fundamental do Deus do cristianismo, do judaísmo e do Islã é um entrave e um inibidor da autonomia do homem.

Veja - A que o senhor atribui o sucesso de seu livro num momento em que há tanta discussão sobre religiosidade?
Onfray
- Acho que muitos franceses esperavam uma declaração claramente atéia. As primeiras páginas de jornais e as capas de revistas sobre o retorno da religiosidade, a polêmica sobre o direito de usar ou não o véu muçulmano na escola leiga, a oposição maniqueísta entre um eixo do bem judeo-cristão e um eixo do mal muçulmano, a obrigação de escolher um lado entre George W. Bush e Osama bin Laden, a religiosidade dos políticos exposta na imprensa, o crescimento do Islã nos subúrbios franceses, tudo isso contribuiu para uma presença monoteísta forte no primeiro plano da mídia. Meu livro provavelmente funciona como um antídoto a esse estado de coisas, pelo menos na França. Ele ainda está sendo traduzido para outros idiomas.

Veja - Seu livro defende um ateísmo “fundamentado, construído, sólido e militante”. Isso quer dizer que é preciso convencer as pessoas da inexistência de Deus?
Onfray
- Isso quer dizer que, quando uma pessoa não se contenta apenas em acreditar estupidamente, mas começa a fazer perguntas sobre os textos sagrados, a doutrina, os ensinamentos da religião, não há como não chegar às conclusões que eu proponho. Trata-se de não deixar a razão, com R maiúsculo, em segundo plano, atrás da fé - e sim dar à razão o poder e a nobreza que ela merece. Essa é a missão, a tarefa e o trabalho do filósofo, pelo menos de todo filósofo que se dê ao respeito.

Veja - A desconstrução dos três grandes monoteísmos equivale a mostrar que o rei está nu, como na fábula de Hans-Christian Andersen?
Onfray
- Sim. É preciso mostrar que o rei está nu, deixar claro que o mecanismo das religiões é o de uma ilusão. É como um brinquedo cujo mistério tentamos decifrar quebrando-o. O encanto e a magia da religião desaparecem quando se vêem as engrenagens, a mecânica e as razões materiais por trás das crenças.
Para todo o conteúdo da entrevista, acesse o link:

4 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Não li por completo este post. Mas, incontinenti, vou em defesa de Deus. Ele exite, é bom e imprescindível. Imaginem se Deus não existisse. Esse mundo, vasto e belo mundo (e não me chamo raimundo) já tinha se acabado. Deus existe e é necessário. Louvemos Deus...

Dihelson Mendonça disse...

Ao meu ver, o autor disse uma grande besteira, ou não explicou direito seus pontos de vista ao falar:

"Veja - Em sua opinião, só o ateu é verdadeiramente livre?
Onfray - Só o homem ateu pode ser livre, porque Deus é incompatível com a liberdade humana. Deus pressupõe a existência de uma providência divina, o que nega a possibilidade de escolher o próprio destino e inventar a própria existência. Se Deus existe, eu não sou livre; por outro lado, se Deus não existe, posso me libertar. A liberdade nunca é dada. Ela se constrói no dia-a-dia. Ora, o princípio fundamental do Deus do cristianismo, do judaísmo e do Islã é um entrave e um inibidor da autonomia do homem."

Não é verdade! Esse rapazinho nunca ouviu falar na palavra livre-arbítrio ??
Nós temos liberdade para escolher qualquer caminho que desejemos. Se uma pessoa pega de um revólver e dá um tiro na cabeça, ele já decidiu por morrer. Assim é a vida. Vc tem a liberdade de escolha e também a responsabilidade para assumir com seus atos. Acontece que muita gente ainda confunde liberdade sem responsabilidade. Isso não é possível.
Onde há liberdade, tem que existir responsabilidade pelos atos praticados, senão, nenhum princípio de Justiça pode ser válido. E um mundo de caos não existe, porque até os planetas, as galáxias, os átomos, as moléculas, tudo funciona com leis, conhecida por FÍSICA, em todo os cosmos as leis são definidas, e ninguém nunca inventou algo que exista a possibilidade de tirar algo sem dar algo. Para toda ação existe uma reação, essa lei da causa e efeito é inegável, e nenhum filósofo, pensador pode passar por cima. Por conseguinte, no universo há leis claras, definidas, e se alguém quiser acreditar, bem, se não quiser, também...

Posso negar portanto, a existência da lei da gravidade, mas nem por isso deixarei de estar submisso a ela.

Falow!

Pachelly Jamacaru disse...

É exatemente pelo "livre-arbítrio", que os outros têm o direito de opinar e de se expressar! Não vejo porque tanto alarde, se a decisão é meramente pessoal, se uns não acreditam, qual o problema? Existem aqueles que não se atêm a procurar Deus, isso porque o "pressuporto," já deveria saber onde estamos!... Só não simpatizo com as apologias públicas do autot ou de quem quer que seja, sobre a tendência que for, porque o fundamento do lívre-arbítrio é que as pesoas amadureçam e façam suas escolhas!
Abraço, espero como ateu que sou, poder frequentar a sua casa e levar a minha amizade, isso, porque não amo menos as pessoas os que crêm!
abraço

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Venhamos e convenhamos: o livre arbítrio pressupôe a livre escolha: a liberdade de crer ou não crer em Deus é uma dessas escolhas.