Ecos do Serviço de Alto Falantes a Voz do Povo
Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 2001 – às 19:50 horas.
Cornetas, vozes de amplificadores,
Espalhadas acima do relevo,
Irregular do Bairro da Batateira,
Ecoam boleros de amores perdidos.
Serviços de alto falantes,
A Voz do Povo,
Transmitindo dos seus estúdios,
Diretamente para todos.
Esta música vai da letra G,
Para alguém dos cabelos longos,
Negros e sedutores,
Como prova de amor e carinho.
Com Waldik Soriano,
Lembrando o ardor das paixões,
Se agarrando aos trapos das perdições,
Escute esta canção.
“ Eu não sou cachorro não...”
Enxotado no corte das tuas unhas encarnadas,
Desequilibrado sobre paredes chapiscadas,
Arranhado desde a epiderme até a medula,
“Tu só sabes maltratar-me e é por isso que eu vou embora....”
“A pior coisa do mundo é amar sendo enganado...”
Quando o desamor é desprezo,
O desprezo redunda em anular-se,
O amor do amado que não o quer,
“Pelo nosso amor, pelo amor de Deus....”
Esta canção vai de um ser solitário,
Para aquela que passa e não o vê,
E passa, passa, sem olhar para trás,
Com Waldik Soriano um grito que te chama:
“Hoje que a noite está calma...”
Quando o luar pranteia a brisa,
Nenhuma voz se anuncia no vácuo,
Dos espaços escondidos das luzes,
“E que minha alma esperava por ti...”
“Aparecestes afinal....”
O corpo teu limitando-se de fosforescência,
Feito uma aparição de encantamento,
Ocupou o espaço vago imediato da minha presença,
“Torturando este ser que te adora....”
“Volta meu amor....”
Não creia nas aventuras dalém,
Abusada que foi da minha monotonia,
Pois o alento que és me faz viajante,
“Fica comigo não me desprezes....”
Atenção você da Letra A,
Que passa ao largo da bodega de João do Tetéu,
Indiferente ao meu desespero de amor,
Escute esta canção...
Na voz de Waldik Soriano:
“Minha querida, saudações....”
Cujas letras mortas não representam,
As milhares de cintilações que pulsam,
Na penumbra da noite desde os pirilampos,
“Escrevo esta carta não repare os senões.....”
“Para dizer o que sinto....”
Me revelando a imagem incompleta,
Que formam minhas entranhas carnais,
Enquanto não vens fazer-me espírito,
“Dentro de mim....”
O Serviço de Alto Falantes,
A Voz do Povo,
Se espalhando nas encostas do bairro,
Ecoando nos caminhos inclinados,
Deseja-lhes uma boa noite e se cala por hoje.
Em quais ondas se encontram teus ecos?
Nesta face lustrada das preferências civilizadas,
Quando o gosto se afina em negar outros,
E os tempos continuam teus chiados.
Até hoje continuam,
Interrompidos pela realidade,
Suplantados pela evolução,
Ninguém mais os vê,
Alguém mais os ouve.
Mas lá eles continuam,
Lá adiante junto com as ondas,
Sonoras que escaparam da gravidade,
E migram eternamente através do espaço.
Eternamente enquanto espaço houver.
2 comentários:
Sensacional !!!!!!!!!!!
Arrasouuuuuuuu , mestre José !
Que texto, cara, que texto! Poesia pura, em seu estado maior de inquietação. Demais.
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