TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 7 de setembro de 2008

Mestres - Marta Feitosa




O cristo está vindo
- Não agora, por favor.
Meu chão está sujo
E o pote seco perdeu a tampa
no meio da bagunça
entra ar, entra poeiraf
iz a rodilha
botei na cabeça
o pote em cima
o pé no barro
fui atrás da fonte
do sorriso da menina
encherei os baldes
de acertos vários
ao voltar pra mina
onde estou morando
olhares oblíquos
serão varridos
do teto ao piso
restos dos meus lixos factuais
- trabalho suado e maus hábitos
melhor em par, diria voinha.
É questão de festim a volta

Cristo disse que viria
E todo o olho o veria
Deve ser por isso
que inventaram a internet
agora é possível
Meu cristo, volte
Se eu lavar as mãos
Vai faltar água no meu pote


Marta

2 comentários:

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

A Socorro Moreira nos trouxe outra mulher. Outra mulher por outra redunda em mulher. Em Marta, jeitosa em seus dardos ao alvo da poesia. De Petrolina, falei em Petrolina ou Joaseiro, um tanto quase igual de vida se cola em mim. Nestas cidades tive a primeira lição do que é viver na urbe, apagar a iluminação com um botão, beber água gelada e acordar com vozes e carros nas ruas. Inúmeras férias passei ali nos idos dos anos 60. Mas Petrolina tem o Lupeu, que mora junto ao São Francisco, mas tem vocação de oceano, vasto, pleno de vagas e marés. Afinal Marta neste poema é sertão, é o centro da água, é a busca da fonte que mate a sua infinita sede de tudo. E Petrolina vai se fundindo ao Cariri, ao Cariricult, tem tudo de identidade, não com Recife ou Salvador.

socorro moreira disse...

Marta, você já tocou um grande mestre !