"Amanhã eu vou para Zimbabwe.
Aliás, amanhã não, agora."
Parei de corrigir as provas,
Levantei os olhos das folhas -
vi o meu louco amigo a passos largos.
Com gesto de perplexidade
cravei os dentes na caneta.
De onde estava dava para ver
meu camarada sendo recebido
por um alto e magro negro
de chapéu de palha.
Um abraço demorado.
Fraterno.
Quem seria aquele negro alto magro de chapéu de palha?
A caneta ainda sufocada pelos dentes -
imóvel jugular de antílope sob as presas de um guepardo.
O navio atracado,
o doido subindo a escadinha quase correndo -
igual a filho que retorna a casa materna
após um longo exílio.
Desapareceu.
E sabe-se lá o que ocorrera dentro daquele navio.
Mas eu sei o que se passou dentro do meu peito:
uma saudade monstruosa e um gigantesco vazio.
Zimbabwe,
o poeta se mandou para Zimbabwe.
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