Não se pode mais confiar
em nossas xícaras.
Relutam em espedaçar-se.
Viram os olhos coloridos.
Agonizam.
Mas não morrem.
As xícaras carregam
nos beiços de louça
lembranças dos nossos chás
e dos nossos cafezinhos.
Sou tão mau -
Desejava-lhes o fino fragmento
da minúscula asinha debaixo da geladeira.
Não podemos mesmo confiar em nossas xícaras.
A eternidade chegou aos seus corpos transparentes.
Caem, dançam, saltitam
pelo piso da cozinha.
Mas não deixam esse mundo -
Têm fôlego de açúcar e adoçante.
Um comentário:
Domingos poeta como joalheiro. Admirando-se dos detalhes do objeto de sua arte. De vez em quando sai do interior do domicílio, voa como uma rolinha em seu diálogo com o gato. Um diálogo entre predador e a presa.
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