TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 14 de abril de 2009

Noite Púbere

Houve um tempo
em que espinhas no meu rosto
nasciam à toa e sem controle.

Dormia eu com uma grávida na testa -
acordava com filhotes
na ponta do nariz leptorrino.

E foi assim por longas eras
um desastre minha adolescência.

Para arder ainda mais meu infortúnio
já escrevia versos para as diabólicas
do colégio Diocesano e Sta Teresa.

(Um monte de grutinhas suadas
a enlouquecer-me a alma)

Sal, pasta dental, creme nívea -
tentava de toda magia
ocultar meus estigmas gordurosos
sobretudo nas bochechas pálidas.

Por fim não me restara outra loucura
senão evocar entidades lunáticas
que me salvassem do abismo platônico.

E eis que surgiu um medonho diabinho -
"Corta teu dedo e faz um círculo nessa folha púrpura."

Fi-lo.

Sou o que sou agora -
Um poeta sem espinhas no rosto
mas com furúnculos na bunda.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Os espinhos nunca param de nascer... Migram da cara para o coração.


As dores também são protetoras. Se conseguir entendê-las, sem espreme-las... Elas desaparecerão !


Beijo