TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 14 de junho de 2009

Porque Terezinha de Jesus não cantou na Exposição do Crato

Em época de Exposição do Crato, nos idos dos anos de 1980 (naquela época não havia ainda o termo Expocrato), Francis Vale estava passando uns dias no Crato. Francis Vale, poeta e cineasta, natural de Crateús, mas radicado em Fortaleza há bastante tempo, foi “nomeado” Embaixador do Cariri por Geraldo Urano. Também advogado, Francis participou do movimento estudantil cearense que fez história na resistência ao regime militar pós-1964, ao lado dos poetas Fausto Nilo e Augusto Pontes, do compositor Rodger Rogério e de boa parte dos artistas que fariam a cena cultural de Fortaleza das décadas de 1970 e 1980. Como consequência, Francis Val, como se costuma dizer, é uma figurinha carimbada no meio artístico não só do Ceará, mas também do eixo Rio-São Paulo. Era pura delícia ouvir suas histórias que, normalmente, envolviam personagens famosas, como os cantores e compositores Sérgio Ricardo e Alceu Valença.

Pois bem, estávamos no Parque de Exposição, no penúltimo dia da festa, tardinha de sábado, quando soubemos que a cantora potiguar Terezinha de Jesus (atualmente no ostracismo, mas na época muito conhecida) estaria fazendo um show no Crato Tênis Clube naquela mesma noite. Francis, amigo de Terezinha, propôs que propuséssemos à Comissão Organizadora da feira a contratação Terezinha de Jesus para cantar no picadeiro do Parque (naquela época, os shows não eram privados). Depois de alguns contatos, fomos encaminhados a Eloi Teles, que era o coordenador cultural da feira. Eloi disse que o show de Terezinha de Jesus poderia acontecer no domingo, encerramento da festa, mas que só dispunha de duzentos mil cruzeiros (lembro bem da exatidão desse valor) para o cachê da cantora e banda. Quando Eloi revelou esse valor, Francis talvez não o tenha escutado.

Desta forma, fomos ao Crato Tênis Clube para contratar a cantora. Ambiente lotado e o show impecável. Depois, nos dirigimos até o camarim dos músicos, aonde Francis já chegou alardeando o seu prestígio em estilo glauberiano:

_ Alô Terezinha de Jesus, você precisa cantar para o povo, para uma multidão de dez mil pessoas, na maior festa popular do Nordeste, a Exposição do Crato. O meu amigo Carlos Rafael lhe fará uma proposta irrecusável.

Terezinha de Jesus, depois de abraçar efusivamente Francis, mostrou-se interessada em cantar na Exposição. Mas, disse ela, eu deveria acertar os detalhes com o seu empresário. Fui, pois, com Francis ao meu lado, falar com o tal. E quando revelei o valor disponível para a empreitada (duzentos mil cruzeiros, que podem parecer muito, mas que naquela época de inflação estratosférica, era uma verdadeira merreca) e antes mesmo do empresário se pronunciar, Francis deu um salto:

_ Como? Duzentos mil cruzeiros? Duzentos mil cruzeiros eu pago para Terezinha de Jesus não cantar.

E a negociação foi encerrada antes mesmo de começar.

Um comentário:

Dihelson Mendonça disse...

Rafa,

Tomei a liberdade de reproduzir esse texto na seção de crônicas do JORNAL CHAPADA DO ARARIPE Online:

www.chapadadoararipe.com

Creio que a essa altura você já deve ter recebido a senha que te enviei para o Jornal, assim como expiquei no artigo do Armando sobre mim e o Tarso, que já lhe enviei várias vezes o convite para o Blog do Crato. Enviei novamente hoje para seus 3 e-mails. Espero que receba.

Abraços,

Dihelson Mendonça