TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Uma outra visão sobre o filme do Simonal

Atrasado no debate, resolvi postar como matéria o que deveria ser um comentário num post feito pelo Carlos Rafael de uma matéria do filme do Simonal, escrita por Reinaldo Azevedo. Entro no debate pois sou da mesma geração que trata o filme. Fui militante de oposição à ditadura militar e lembro com clareza a dificuldade política e popular que tínhamos. Nos anos do milagre econômico, com os americanos pisando na lua, só meia dúzia de jovens e alguns velhos remanescentes da degola da ditadura ainda fazia algum tipo de oposição. A classe média com seus palitós clube um e jogando na bolsa, nos via como idiotas, feios e lixo da história. Este conceito passou para o lixo da história, mas os personagens que antes nos combatia, hoje querem nos transformar na causa da desgraça do Simonal. E a causa se encontra noutro lugar, para quem sabe nossa desgraça e para o deleite deste povo do mercado, foi justamente o mercado que virou a história do velho Simona.

Não vi o filme e por isso não posso discutir mais do que dizem dele. Na periferia digo: ninguém deixou de ouvir ou ter disco do Simonal em razão do Pasquim. Nem ao menos o Simonal era tão importante personagem da vida nacional para que a esquerda o perseguisse, até por não ter os instrumentos para tal. Quem mandava no sucesso de um cantor eram as gravadoras, as cadeias de rádio, televisão e jornais. Os grandes grupos de mídia no Brasil sempre tiveram muito mais leitores, muito mais público ouvinte, muito mais dinheiro, patrocínio e apoio logístico e moral que qualquer jornal nanico como o Pasquim.

Volto ao tema, não vi o filme, mas a interpretação do Reinaldo é despropositada em contéudo e continente, em dimensionar o verdadeiro papel da esquerda (a oposição ao regime militar) naquela altura em que Simonal perdeu fôlego no mercado fonográfico. Aliás quem viu o filme e deu outra interpretação a ele, parece perceber que o filme tem um certo ranço que aponta para a esquerda mesmo, embora seja de todo um filme correto com os fatos. Para que você que tem interesse no assunto e quer ter uma outra interpretação sugiro que link no seguinte endereço e leia a matéria sobre o filme (inclusive dentro do texto tem outro link muito interessante para quem gosta de estudar a produção musical no Brasil dos anos 80 e 70): http://www.idelberavelar.com/

4 comentários:

Maurício Tavares disse...

José do Vale
Gostei muito da crítica ao filme sobre Simonal que você indicou no seu texto. Agora é fácil Nelson Mota e Miéle posarem de defensores do cantor. Na época não falaram nada. É muita boa também a análise que ele faz da derrocada de Simonal ao atribuir outros fatores (sem negar a campanha da mídia) para o seu ocaso. A bipolaridade do pensamento nacional chega a ser risível. Anjos e demônios. Fiquei muito aliviado em saber que não sou só eu (ou uma esquerda ressentida)que tem dificuldades de perdoar Simonal mesmo reconhecendo que ele era um grande artista.

Anônimo disse...

Eu sempre achei que podia haver algo mais na derrocada do excelente Wilson Simonal do cenário artístico musical dos anos 70.
Aí vem o Zé do Vale e coloca um componente na discussão, que a meu ver, tem muito haver com o problema. Na verdade, a produção artistica no Brasil ganhou muita força a partir dos anos 50 quando, principalmente o rádio, com as suas ondas curtas, banhou os quatro cantos da nação, e idolatrizou, como também obnubilou (jogou nas trevas) muitos e muitos cantores. Quem não se lembra do nosso Luis Gonzaga que ia caíndo no ostracismo, e que foi alçado pelo Carlos Imperial, um manipulador da mídia e do novo mercado de disco dos anos 60 até metade dos 70? (aliás, a letra do filme é da música: O carango, de Imperial e Nonato Buzar).O mercado abriu todos os ouvidos e os seus olhos esbugalharam todos os cifrões quando o Imperial anunciou a mentira da década: Os Beatles gravariam Asa Branca !
Pois é, eu fiquei aqui assuntando nessa sacada de Zé do Vale ter razão... O mercado. Esse tal mercado pode ser o mesmo que defenestrou o velho Simona como pode ser o mesmo que não se interessa pelo Simoninha. Pode ser.
Aliás, tem um sujeito chamado Karl Pollanyi, que sugere ser o mercado, e não o capital, o responsável pela grande transformação da humanidade.
Zé do Vale tem cada idéia...

Anônimo disse...

O certo é "muito a ver" e não "muito haver".

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Professores: como humilde aluno escuto a lição dos mestres.

abraços

José do Vale