Entre a Serra do Mar e a Mantiqueira - Parte 3 - A destruição da natureza

O corte certo no tronco elevado daquilo que cobria o solo

Uma das mais remotas notícias de destruição natural que se conhece é a da Ilha de Chipre. Hoje coberta por uma vegetação rasteira, era na idade do bronze uma grande floresta de cedros. A floresta foi derruba e queimada para a forja da liga de metal.

Assim ocorreu na Serra do Mar e em toda a extensão do Rifte Continental do Sudeste. A agricultura de sobrevivência começou o processo, depois a cana, o café desnudou o relevo acidentado e finalmente a pecuária.

Morros cobertos com uma fina camada de capim onde pastam os capuchos brancos do gado nelore

O consumo desta floresta primitiva, a modificação da flora e fauna, a erosão do solo, o exaurimento das águas, a contaminação geral por poluentes de toda a Serra do Mar enriqueceu a Europa, criou um Império nos Trópicos e soergueu duas megalópoles mundiais: São Paulo e Rio de Janeiro. O vale do Rio Paraíba é, paradoxalmente, uma das matrizes da industrialização e do desenvolvimento capitalista nacional.

Gado pastando na beirada da erosão que aparece por sobre o teto de uma residência

Por ele circula a maior artéria rodoviária do país. Um percurso de pouco mais de quatrocentos quilômetros sintetiza todos os dramas da moderna civilização. Os dramas do desajuste social, grandes corporações, tensões urbanas, atraso rural, pesquisa de ponta, centenas de universidades, a indústria metalúrgica que consome carvão vegetal e planta florestas de eucalipto.

A Via Dutra com seus postos de serviços num momento de engano: estas pistas estão permanentemente cheias

Por isso mesmo, no limite da racionalidade foi criado o Corredor de Biodiversidade da Mata da Serra do Mar. Atinge o Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ocupa 12,6 milhões de hectares. A maior unidade é a APA da Serra do Mar com 489.000 há (São Paulo) e a APA da Mantiqueira com 422.873 ha (São Paulo, Minas, Rio). Neste corredor estão APAs importantes como Guaraqueçaba (283.014 ha - Paraná e São Paulo), Guaratuba 199.596 ha (Paraná), Sistema Cantareira 249.200 ha (São Paulo); Cananéia/Iguape/Peruíbe 234.000 ha (São Paulo), Parque Nacional da Bocaina com 110.000 ha (São Paulo e Rio), Parque Nacional de Itatiaia com 30.000 ha (Minas e Rio) e APA de Petrópolis 59.049 ha (Rio). 98,7% das Unidades de Conservação têm menos de 100 Ha. São 201 unidades de conservação: 7 Parques Nacionais (Tijuca, Itatiaia, Serra da Bocaina etc.) S; 4 Floresta Nacionais (Lorena, Passa Quatro etc.); 24 Áreas de Proteção Ambiental (Mantiqueira, Petrópolis, Bacia do Rio São João, Campos do Jordão etc.); 36 Parques Estaduais (Cantareira, Jaraguá, Ilha Grande, Ibitipoca, ; 14 Estações Ecológicas (Ilha do Mel, Bananal; etc.); 3 Reservas Estaduais, 2 Reservas Florestais; 1 FE; 7 Reservas Biológicas; 1 Reserva Extrativista ; 102 Reservas Particulares do Patrimônio Natural.

A idéia é que mais esforço de conservação se mostre para o futuro próximo, inclusive envolvendo as terras particulares. Já o problema humano no Vale do Paraíba continua dramático.
Nas ruas de Bananal cavaleiros entre a zona rural e a cidade. Não é turismo

Um conservadorismo que tolhe as possibilidades. Amanhã veremos.