TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Mais que amor

Naquele momento estavam sozinhos. Ninguém no quarto além dos dois. Ninguém na casa além dos dois. A desavença tinha que ser resolvida. O amor não poderia ter acabado por conta de cinco segundos de uma visão constrangedora.

Por mais que não visse nos olhos de Sofia um resquício sequer de paixão, Lucas não poderia desistir dela. Não poderia desistir daquela que fora escolhida para domar aquele coração raivoso e aquela mente inconstante. Não poderia deixar de lado as arrebatadoras semanas de sentimento intenso, de vida compensatória.

Foi Sofia quem o despertou, quem lhe mostrou a beleza do simples, a paz de uma caminhada ao ar livre. Apenas no olhar de Sofia é que Lucas conseguia encontrar o próprio olhar. Sem ela, ele nunca teria se emocionado plenamente.

Por isso Lucas foi ao encontro da garota naquela noite. E por não entender o quão apaixonado ele era, Sofia não queria vê-lo de novo, então correra para o quarto, com os olhos em dilúvio, logo que abrira a porta e vira Lucas do outro lado da passagem.

Tudo que ele queria era observá-la novamente. Não conseguia explicar como se sentia. Se houvesse algo que transcedesse o amor, certamente seria isso que ele sentia. Como não sabia o que tomava de roubo o coração que pulsava acelerado em seu peito, Lucas simplesmente se calaria e olharia naqueles olhos que lhe proporcionaram a catarse mais encantadora que jamais pudera imaginar.

Dizer “eu te amo” seria perda de tempo. O amor não era mais suficiente para ele. Algo mais era necessário, mas esse “algo” não existia ainda.

Cada um se encontrava em pé em lados opostos da cama quando finalmente Lucas resolveu falar. E o convite não poderia ser outro que não pedí-la para deitar-se ele e simplesmente esquecerem-se do mundo. Fecharem os olhos, sentirem apenas a respiração ofegante ao lado e viverem o que ninguém no planeta jamais viveu.

Deitados, calados, houve apenas um simples toque de mãos e depois ficaram ali, pela eternidade.



Thiago Assis F. Santiago
www.euthiagoassis.blogspot.com

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