Política no Brasil, amigos, é esta bandalheira que está aí mesmo e todo mundo sabe. Não há eleição sem caixa 2,3,4; quase ninguém se elege sem comprar votos. E pior, todo mundo neste país vende seu votinho, não é só o descamisado não! Varia o preço: uns por chinela, outros por tijolos, cimento, favores, outros por cargos e licitações. Pouquíssimos políticos nesse país resistiriam a uma investigação simples da evolução do seu patrimônio após ser eleito. Qualquer “drome-sujo” na rua sabe exatamente quanto custa a eleição a qualquer cargo público. Há candidatos, do interior do Ceará, que gastaram mais de dois milhões numa eleição para prefeito! Ponham isso em escala nacional, para todos os cargos, em todos os mais de 5000 municípios! E aí , vem a pergunta inevitável: se o que ganharão como salário é infinitamente menos daquilo que investem na campanha, por que o fazem? São todos santos, bem-intencionados, filantropos? E o nepotismo, isso é lá novidade? O nepotismo é uma herança monárquica neste país, faz parte da nossa cultura como a feijoada. Na carta de Pero Vaz de Caminha , sobre o descobrimento do Brasil, o escrivão já aproveitou para pedir um empreguinho a Del-Rey para um sobrinho!
Sei que nas rodinhas todos se mostram indignados, revoltados com a cara de pau de nossos políticos. Alguns, inclusive, apresentam soluções radicais: fechar a Câmara e o Senado, nunca mais votar para eleger nenhum FDP desses. O que eu falei pode até chocar e parecer um discurso comodista: “É assim mesmo, cambada, deixa prá lá!” Não é isso amigos, apenas acredito que pouquíssimos de nós têm o real direito da indignação. Simplesmente porque o brasileiro comum não é melhor nem pior dos que discursam em Brasília. Somos todos muito parecidos. O Congresso é o mero reflexo no espelho da sociedade que formamos. O brasileiro é assim mesmo: um corrupto incorrigível. Mudam as escalas e as nuances. O sujeito que se revolta diante da TV logo adiante tenta subornar o guarda de trânsito para livrar a multa ; o mais indignado bota gato em casa para livrar a continha da luz e um jacaré para burlar a SAAEC; o sujeitinho que vomita com o discurso do Sarney é o mesmo que compra recibos frios para sonegar o imposto de renda. Os comerciantes que dizem repugnar as coisas de Brasília recolhem o ICMS dos clientes, mas dão um jeitinho contábil de não repassar todo à Receita. Na maior parte das instituições públicas brasileiras, o esporte que mais se joga é aquele : Bola! No mais, dêem um cargo a qualquer brasileiro e vejam se não se repete exatamente aquilo que todos tanto criticam em Brasília : favorecimentos, nepotismo, notas frias, melhoria patrimonial, desvios e por aí vai... ponham uma lupa em qualquer um de nós e a imagem que aparecerá não é muito diferente da de Sarney, ACM, Jáder, Severino Cavalcante. E é sempre bom lembrar que todos eles foram eleitos com uma votação expressiva.E, mais, eles serão reeleitos quantas e quantas vezes assim o desejarem, independentemente de escândalos, denúncias e da falsa e hipócrita indignação do povo brasileiro.
Nenhuma instituição neste país ,pública, privada, religiosa, filantrópica, sindical resiste a uma CPI séria, nenhuma ! O Brasil, amigos, é esta ilha de corrupção cercada de hipocrisia por todos lados. Claro que o leitor pode imediatamente pensar: “Alto lá, meu pai era uma pessoa extremamente honesta e exemplar, não merece a acusação que este doido esta lançando a todos nós!”. Perfeito, amigos, cada um de nós conhece alguns Policarpos Quaresmas. No Congresso existem também, mas em ambos lados são raríssimos e deviam, inclusive , ser cadastrados pelo IBAMA, pois se encontram em franco risco de extinção. Neste país só existe uma coisa realmente organizada : O Tráfico de Drogas e de Influências.
E aí, não tem jeito? Estamos fadados eternamente à lama, ao pântano? Não, amigos, mas o que tem que mudar não são nossos políticos, mas o povo que os elege. Somos uma nação novinha. Passamos 300 anos como colônia, quase cem como monarquia e no último século perdemos quase que a metade em duas ditaduras. A Monarquia e a Escravidão acabaram praticamente ontem, há pouco mais de cem anos e não por mera coincidência evaporaram-se quase que ao mesmo tempo. Como mudamos ? Mudamos com educação política e isso demanda tempo e maturação. Se a gente olhar direitinho até que já andamos, é que o filme da transformação passa em slow-motion. Por enquanto é bom lembrar que quando olharmos nossa imagem no espelho talvez pensemos está contemplando o Dalai Lama, mas se nos detivermos nos detalhes veremos que no nosso retrato envergamos um colarinho branco e um bigodão igualzinho àquele do Sarney.
J. Flávio Vieira
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