para o Jefferson Airplane
Esta é para aqueles que trepam pensando nas contas do mês. E que enxergam beleza nos domingos insossos. E que nada podem fazer em nome de um passado dotado de glória. As mesmas drogas esquecidas num canto do armário, os livros que ainda podem salvar tua pele; ouvir um aeroplano louco enquanto a tarde insiste em cobrir tudo que existe de um laranja único.
Às vezes, sonhar em ir para guerra. Mutilar o corpo, acelerar a loucura que adormece em nossas cabeças. Continências em fileiras imensas de meninos gordinhos. Amestrados senhores de terno, enfurecidos por não destruir os quarteirões que guardam segredos inconfessáveis. Os poucos baseados, as noites que pareciam não ter fim – eles querem esquecer tudo, e seguir em frente rezando na cartilha fodida da mesmice.
Eles sonhavam com um mundo diferente. Discurso batido, cabelos grandes, desejos trocados por uma retórica qualquer. Eles cospem no próprio passado. Raspam as paredes com as unhas em madrugadas aflitas. Amolecem os dentes e sorriem para os vizinhos. E perdem o sangue em festinhas de playground acanhadas.
Por vezes sou um desses caras. E ainda que barganhe com o diabo, para manter uma certa lucidez, eu sonho. E trepo por vezes pensando nas contas e no mistério que envolve cada gesto sacal, cada constelação sem nome, cada rosto que conheci.
Os moinhos do Quixote podem não me comover mais. Nem os velhos dilemas da infância. Mas eu permaneço, como quem lança garrafas incendiárias em marolas sonolentas. Como quem se apega ao poder das palavras, para não sufocar o garoto sem medo que me habita.
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