TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 12 de dezembro de 2009

Os castelos de Espanha - por José do Vale Pinheiro Feitosa

E são coisas que não se medem com as medidas da vida.
São outras medidas, mais que réguas de várias gerações.
Muito além das manadas de camelo nos desertos da Arábia.
Dimensões que ultrapassam a improvável retomada de Jerusalém.

E tudo que um duque poderia nem chega a um centímetro desta medida.
Pois é nada esta esperança de vida que não vai além dos quarentas anos.
É desprezível, mesmo que fantasia de eterno, o amor por aquela donzela.
As glórias daquele cavalheiro entre dragões, escarpas, e as chagas da lepra.

São coisas muito mais duradouras que a guerra vitoriosa no panteão da memória.
Vai além das trovas pelas trilhas em guitarras que fazem a curva até o amor.
São medidas tão maiores que os falcões não caçam por tanto senso diminuto.
Que as armas, digo armaduras, não sustentam a oxidação mais rápida que elas.

Nem as glórias de Fernando e Isabel a saquearem o ouro dos Astecas.
Pizarro atravessar os Andes e no ar rarefeito drenar a civilização Inca.
Duram muito mais que as ex-colônias libertas ao julgo do imperialismo.
Vão além das fogueiras da inquisição, da rigidez cínica da Opus Dei.

Os tempos de Franco são grãos se comparados àquelas medidas.
Mesmo que alguém fale a língua de Castela seu verbo é mais jovem ainda.
Não tanto quanto o latim, mas esse se vulgarizou nas colinas e desertos da Ibéria.
Mais que Segovia, Granados, Benitez, Falla ou Paco de Lucia da corda dão a nota.

São medidas maiores que a vida: os Castelos de Espanha.
E que vida tão desprezível inventou monumentos milenares?
O que inventavam no tempo e no espaço aqueles senhores de mortalidade precoce?
São os Castelos de Espanha mais duradouros do que o tempo de qualquer dinastia.

Buen Amor, Almodóvar, Ampudia, Olite,
Berzanga Soria, Coca, Manzanares el Real,
Coyanza e Templário, muito mais que os senhores.
Tanto que se espalham pelo mundo numa fugaz apresentação da internet.

Nenhum comentário: