TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 12 de março de 2010

Quem será a próxima vítima? Por José do Vale Pinheiro Feitosa

Este texto o fiz pensando no Ceará, ainda sem saber o assassinato do cartunista Glauco em São Paulo. Mesmo assim o mative igual, considerando que apenas o fato representa o que consegui dizer.

O surto de violência que de algum modo atingiu todos os países centrais, se alastrou pelo Brasil, chegou primeiro às capitais e se instalou no interior do país. Como toda “pandemia” existe variações locais, a depender de fatores sociais, políticos e econômicos, mas tem algumas características bem comuns.

Entre as características mais comuns, ele atinge com maior incidência aos jovens, pobres e do sexo masculino. A natureza básica ainda continua tomando por ódio as diferenças sociais e econômicas, recebendo as variações locais como sociedade de consumo, bebidas alcoólicas, drogas, corrupção política e no aparelho de Estado. A considerar a materialidade dos meios com os quais se realiza o ato violento: armas de fogo leve, veículos motorizados para evasão rápida e rádios de comunicação à distância (celulares).

A natureza das políticas públicas tem muito peso na forma como a violência se dissipa no tecido social. No Ceará, por exemplo, a percepção da sociedade é que a violência se amplia, que o governo não consegue implementar uma política adequada ao tamanho do problema e que a própria sociedade se encontra num estágio confuso que pode levar a diversos efeitos.

Uma abordagem rápida destas três questões: percepção, política de segurança do governo atual e o trato político (social) da questão. A percepção é paralisante. Há uma sensação generalizada que todos já foram acometidos pelo surto, que o surto está fora de controle, que o modo como uma pessoa pode se vitimar é duplamente contraditório: certo e aleatório. Assim como a morte, certo que vem só não se sabe como. É o próprio limite da paralisia.

A mídia ajuda a formar esta sensação paralisante sem dúvida alguma. Muita gente ganha a vida a criar um “clima” de que tudo descambou e que a resposta se encontra na própria violência. Assim como um Canudos em suas guerras terminais. Outro dia num velório de uma empresária vítima de assalto, uma professora de sociologia, com pesar de sua ciência dizia: tem que matar alguns para que outros se assustem e se inibam. Assim como o Barão de Jeremoabo pensava do Conselheiro.

Sobre a política do governo do Ceará com o assunto? O governo está perdendo o debate por uma série de fatores. Não apresenta e discute as estatísticas de violência em face desta política. Valorizou excessivamente o efeito externo, com veículos caríssimos, jovens bem vestidos e há uma crítica que tais “carrões” se tornaram apenas meios de locomoção e passeio destes jovens. Enfim, o governo perde na comunicação social. Quem já sofreu algum tipo de agressão traduz a política de segurança do governo Cid Gomes como a polícia do pós fato. Apenas existe para registrar o acontecido. E tem algo mais grave: dentro das corporações de segurança há um enorme descontentamento salarial e, certamente, uma autofagia que redunda em sabotagem das ações táticas e estratégicas.

Se o Cid Gomes pode, politicamente, pagar caro por sua política, não menos as soluções desta mesma sociedade, paralisada e crítica da política do governo deixa de ser um desastre. Ampliam-se os esquemas privados de segurança. Cria-se a pior espécie de “sociedade policial”, aquela que não é mais republicana, se forma por “milícias” avulsas e armadas como se todos vivessem aqueles velhos esquemas do sistema feudal. Se tivermos juízo faremos o debate correto sobre o assunto.

E certamente pensar o assunto é criar um pacto social que traga não a paz das armas, nem a sociedade do medo (é flagrante como os ricos, agastados pelas investidas de jovens assaltantes desejam implantar o medo entre os mais pobres), mas a paz do debate, da divergência como método de apreensão do que já diferente e a convergência como sistematização de políticas públicas e republicanas.

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