TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Está sendo postado porque os comentários não aceitam um número maior de caracteres - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Sávio,

Acho importante que as diferentes visões de mundo se apresentem quando se pretende falar em cultura. Apenas quando se mostram é que a cultura se torna este fermento, que não é apenas um arco de cores para se contemplar. Ao contrário é na exposição, na contradição das várias visões que se pode dar movimento ao invés da estática de um simples painel. Esta é a primeira premissa para a nossa manutenção. Ou, melhor, para o movimentar das idéias.

Defendo que o debate nunca é nulo. Pode levar a exaltações, frustrações, até mesmo ódio, mas sempre tem um resultado ou um saldo como se diz na linguagem contábil. Nesta linha é que tomei pulso de certa arrogância, ou melhor, de certo ar de superioridade ao se afirmar que outros não são capazes de desenvolver um debate: científico, filosófico ou artístico. Sabe qual o motivo desta tomada de pulso? É que neste caso só quem o teria seria a pessoa que assim afirmou.

Acho que existe certa fragilidade no conceito de desenvolvimento. Mesmo que de natureza tecnológica ou de complexidade técnica. A tecnologia como se usa hoje é quase toda ela de base científica que, historicamente, é um fenômeno bem recente, pós renascimento. A ciência, bem dizendo, e seus cânones. Ora se estamos dizendo isso, todos que estamos vivos somos contemporâneos deste desenvolvimento, guardadas questões sociais e econômicas. Por isso mesmo é que um índio pode desenvolver uma obra de complexidade técnica. Os seus descendentes são alunos do Padre Ágio, os irmãos Aniceto não são meramente desprovidos de técnicas bem desenvolvidas.

Quanto à sua conclusão que no “nosso caso” se anuncia sinfonia e se apresenta coreografia impotente, isso pode ser tomado como uma observação quase específica e até mesmo pessoal. Explicando-me: se isso ocorreu com alguém não quer dizer que todos sejam assim. Menos que todo o “nosso caso” assim o seja. A não ser, mas acho que você não é dado a expedientes primários, que seja apenas força de combate ao outro.

Posso dizer que o conheço já razoavelmente. Pelo menos a face dos blogs. Um dado é que uma vez ou mais se contrapôs à prática da arrogância argumentativa e à superioridade da sentença acabada. Como o uso do diminutivo para reduzir aqueles com os quais se tem diferenças. Aliás, argumentar por escrito e oralmente tem sempre o problema da interpretação do outro, por mais clara que seja a idéia. Por isso é que os blogs se tornaram tão interessantes, especialmente a sessão de comentários, quando tais interpretações se tornam evidentes. Retorne à prática da dialética socrática e verás que ela se compõe de dois elementos principais: a ironia e a maiêutica.

Uma coisa é certa, o método socrático incomodou bastante os pilares de Atenas, com a idéia que ele corrompia a juventude, a ponto de levá-lo a beber a cicuta. Aliás, toda sua dialética era combativa, assentada na sua personalidade irônica com o fim de combater os sofistas. Mas ressalve-se o que foi dito por você: confrontar idéias é mais estimulante do que a mera violência verbal. Isso, também, não quer dizer que não se deva argumentar com todo o teu potencial quando ele for necessário.

Quando tomas a ironia para com os que escrevem e debatem no Cariricult, quem quer que seja, chamando-os de "gênios", terminas por expor outra questão. A questão da seletividade, da meritocracia pura e simples que, aliás, é bem das hierarquias o que não se trata aqui. Mesmo que cacoetes aqui e acolá possam surgir, mas não como regra. Tipo o ser superior que aponta para o outro chamando a sua prática de “intelectualidade de papagaio” e a todos os outros de “corporativismo sub-intelectual.” Convenhamos: quem tem este poder de classificar os outros se acha muito diferente disso tudo.

O mesmo se aplica ao silogismo aristotélico. Até porque se formos adiante a matemática dos fractais não deveria existir diante das premissas geométricas. Ou melhor, a geometria é insuficiente para compreender certos fenômenos naturais como as nuvens. Como, aliás, a economia clássica não dar conta de inúmeros fenômenos, mesmo quando existem quase que teoremas para enumerar os ciclos da crise do capitalismo.

Não veria a receita de bolo que dizes usam os “gênios do cariri”. Ora se criticar o capitalismo, a igreja ou qualquer período da história é um problema é preciso que se identifique onde e quando este problema ocorre. Poderia ser exatamente em quem tem enorme apego ao capitalismo, à igreja ou à idade média. Do mesmo modo se "autonomear gênio" tanto pode ser um cacoete de um lado quanto do outro. De quem de fato se autonomeia ou quem diz isso do outro para diminuí-lo por se achar superior, ou seja, genial. Daí, mais uma vez, se colocando no espectro da genialidade contrária, seja encontrando desconforto com os socialistas ou com seu Expedito Celeiro, que reputo um artesão de enorme profundidade cultural.

Sávio, por fim, acho você muito mais importante para o Cariricult do que Dr. Thomas Wood e, especialmente a frase. A própria igreja católica é mais infinitamente arcaica (antiga) do que a Civilização Ocidental como a conhecemos hoje. É que existe uma enorme dificuldade de traçar os limites desta civilização. Seria na Grécia? Mas ela estava mais para oriente. Seria em Roma? Ou seria no Renascimento? Ou no Iluminismo e na Revolução Industrial?

A verdade é que temos mesmo de por as idéias em movimento.

6 comentários:

Unknown disse...

"Cabra" originalmente era referência aos mestiços, frutos da miscigenação dos "índios" e dos negros.
Depois passou a ser a denominação para todos os pobres, vistos como uma "peste".
Isso a partir da visão dos senhores.

Aliás, falando em historiadores, o Prof. José Pinheiro, da UFC (atual vice-governador do estado) tem um livro que se chama "Notas sobre a formação social do Ceará".
Neste livro ele mostra como a política colonial foi de submissão dos "cabras", com a prática da exigência dos passaportes para os homens livres pobres andarem pela capitania. E era apenas uma das medidas de controle.

Mesmo que os colonizadores tivessem tal visão pejorativa dos pobres, chamando-os de "cabras", o que importa é que estes criavam seus próprios valores, construindo suas vidas, a resistência, a recusa...

Viva os cabras!!!
Abaixo o chicote...

(Vieram com uma visão da Casa-Grande aqui no blog, pensando que estavam na colônia, na antiga capitania, mas como dizem os amigos, "o buraco é mais embaixo")

Antonio Sávio disse...

José do Vale agradeço enormemente sua postagem mas, mais uma vez tenho algumas observações a fazer. Acho que me conhece muito pouco para dizer o que disse ou acompanhou a(s) "peleja(s)" a certa distância. Seja esta ou outras como você relatou que vem acompanhando. Em momento algum defendi aqui os erros da igreja católica, mas o simples respeito as crenças de outros participantes do blog. E isso foi desrespeitado e eu comentei quando isso foi feito. Acho que o senhor tomou também por arrogância as minhas outras postagens e outros comentários que já fiz com outros participantes do blog a respeito do Capitalismo e do Socialismo. Nunca defendi nenhuma barbaridade do capitalismo, nem a fome, e nem a exploração dos pobres etc etc etc. O que sempre comentei aqui é que há muita coisa faltante na história contada pelos socialistas e isso deve ser suprido, principalmente quando já há documentos sobre isso. Não se trata aqui de crenças ideológicas mas de fatos históricos. Acho que muita gente está acostumada a lutar com um João-Bobo, e felizmente eu não sou um, assim como tenho minha consciência limpa de não ter sido arrogante. Mas, como você mesmo disse, é a pluralidade de idéias e interpretações que fomentam as discussões. No comentário do professor Darlan, por exemplo, membro do qual já tive inúmeras discussões aqui, ele cita um livro chamado "Notas sobre a formação social do Ceará". Não li o livro, mas acho inteiramente natural que alguém defenda suas idéias e apresente-as com os documentos lhe convir, ASSIM COMO acho muito imoral, enfiar um único ponto de vista goela abaixo das pessoas, pondo estas reféns de suas idéias, numa gaiola, presa a sentença: se concorda comigo está livre, se não, taxo-a de capitalista, retrógrada, medieval, e está condenada. Acho que a construção de um debate nestes termos é desonesto senhor José. Reagir com a mesma força que lhe é feito o ataque não é arrogância, mas um direito. Não sou em o censor deste blog e em nenhum outro lugar. Espero que um dia eu tenha a oportunidade de conhecê-lo e fazer-me também conhecer.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Sávio e é falando que nos conheceremos. Pelo menos com esta face dos blogs como resalvei na minha afirmativa de que pensava conhecê-lo, o que quer dizer que sempre que vejo postagens suas e seus comentários os leio.

joão alberto lupin disse...

sávio,acredito que voce como muitos outros blogueiros daqui,não leram os comentários no baixíssimo nível,que o CARLOS RAFAEL,trocou comigo na noite de quinta-feira(foram sumariamente apagados na madrugada).aqui é um blog de pessoas ditas "intelectuais",achei que tais postagens,seriam no mínimo vistas com HUMOR.nunca imaginei encontrar por aqui pessoas tão RADICAIS.as imagens por mim postadas circulam no MUNDO virtual sem provocar ataques xiitas onde apareçam.além do fato de publicar as postagens do CRISTO,não fui grosso,nem deselegante com os seus amigos.apenas RESPONDI aos comentários raivosos a mim dirigidos.a coisa tomou vulto pelo fato de muitas intromissões(veladas ou não),de pessoas que pegaram carona na polêmica para defenderem qualquer coisa.muitas pessoas perederam a oportunidade de ver as imagens,por conta desta polêmica idademediana.e aí?mais pessoas poderiam nao gostar,outras gostariam e me entenderiam.que mais pessoas pudessem ter visto para,mais pessoas opinarem.poucos viram e muitos só souberam.o debate ficou truncado.já quase se perdeu de vista os verdadeiros motivos de tudo isso.não sou "filósofo" e meus textos sao mais simples e diretos.quero que mais pessoas possam me entender.

Antonio Sávio disse...

Lupin, não sou filósofo, mas primo por dar um sentido bastante lógico e racional ao que eu digo (não que as outras pessoas não o tenham). Realmente a coisa tomou um vulto indevido, mas, de todo modo sempre aparendemos muito com essas coisas. Vemos a face das pessoas de modo mais claro, inclusive a minha própria. Espero no mais que tudo esteja claro para você como está para mim. Abraços.

joão alberto lupin disse...

quando a gente passa a responder mais diretamente aos comentários postados,as coisas se esclarecem melhor.