TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 26 de maio de 2010

As botas

Quando eu sumir deste mundo
quem cuidará das minhas botas?

De onde estiver juro
enviarei boa energia
ao valente sujeito
que calçar minhas botas.

As botas silenciosas
em um canto do quarto
sabem da minha caduquice.

Ninguém humano
olhou-me como me olha
as minhas botas

encostadas à parede
com as meias dentro.

As meias (coitadas)
vivem mergulhadas no abismo
mesmo com o fim da batalha.

Meu par de botas é um casal simpático.
Senhor e senhora discretos.
Polidos.
Intocáveis.

Mas ao andar sobre calçadas
do alto dos céus as nuvens
tremem de inveja.

Minhas botas verdadeiros mestres
em pisar vidro,
pontas de cigarro,
chiclete.

Creio que seja amor o que sinto
pelo senhor e senhora botas.

Quem cuidará das minhas botas
quando eu for enterrado
com o sapato bico fino?

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