TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 12 de setembro de 2010

Uma solidão eletrônica - Emerson Monteiro

Se ficar parado defronte a um televisor, assistindo calado ao drama de outros personagens, resolvesse o enigma da humanidade, já haveríamos, com saldo suficiente, descoberto a resposta procurada desde que o mundo é mundo. Porém a grande aventura continua pelas vidas adentro, na mesma tentativa igual às noites frias que atravessam os guardas noturnos e seus radinhos agarrados aos programas da madrugada, catando notícias do mais profundo mistério.
Essa tal de solidão vem de muito longe, dos tempos imemoriais. Nas primeiras imagens pictóricas da civilização, na era da magia simpática, figuras foram desenhadas nos bastidores das cavernas pelos homens pré-históricos, ali parados caçadores, de olhos grudados nas cenas de animais acesos à luz dos fachos de alcatrão, querendo planejar as expedições dos dias posteriores nas ramagens da floresta.
Hoje, velhas cenas ressurgem ao toque de alguns botões das telas incandescentes de vídeos, televisões, computadores, celulares, figuras animadas que invadem a memória, repetições de caçadas silenciosas a esfinges, que persistem noutros exemplares do animal pré-histórico que somos nós.
Sentinelas avançadas da tecnologia, apalpamos paredes rústicas de prisões deste solo comum, armados de tacapes, arcos e flechas, lanças, fuzis, lanternas amoladas, pé ante pé, no roteiro das interrogações, ladeiras adiante...
Lançamos foguetes ao espaço, que retornaram vazios, espelhos de nós próprios, calendários de asas e eras, comunicação circular das carcomidas aventuras. Mergulhamos oceanos munidos de câmeras poderosas para colher lembranças redivivas de biologias e destroços de antigamente, muralhas e algumas incompreensões mantidas entre povos dissidentes, concorrentes, a peso do ouro escondido nas entranhas da Terra.
Nisso, o tropel segue arrancando raízes, levantando poeira, sacudindo pedras, faíscas, minérios, desembalada carreira na forma de letras, palavras, apegos, fracos na carne e fortes na alma, atores de epopéias e sujeitos de saudades imensas das gerações que se foram e vão.
De jeito que aquietar os ossos chega o sono, machucados egoísmos caducos dificultam a revelação. Resta, no entanto, suplicar nas orações ao Deus desconhecido da Grécia; à Deusa liberdade francesa; ao Tupã dos ameríndios; ao Deus inexistente dos budistas; no furor dos elementos, da ciência dos alquímicos. Rezar nessa montanha silenciosa de claridade intensa, oráculo dos tempos atuais. Perscrutar, com amor, as entranhas da mãe solidão, na frente deste muro de lamentações da história e seus equívocos de porões escuros. Com tais manias, os lobos, uivando para luas de cristal, vagos sufistas de ondas eletrônicas, emitem sinais de socorro, e exaustos e sós retornam melhores dos montes distantes das ilusões contrafeitas.

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