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domingo, 17 de abril de 2011

Raridades

Brennand abre em Recife biblioteca com raridades do período holandês no país

Empresário pernambucano conseguiu reunir acervo com 60 mil itens, que incluem livros, manuscritos e partituras musicais

MARCELO BORTOLOTI
ENVIADO A RECIFE

O empresário pernambucano Ricardo Brennand, 83, tem duas qualidades que o permitem acumular grandes acervos: a sanha de colecionador e dinheiro suficiente para extravagâncias.
Ele é dono de uma das maiores coleções de armas brancas do mundo, com 3.000 itens, incluindo espadas, clavas e armaduras.
Seu acervo de arte tem 15 quadros de Franz Post -a maior coleção privada existente do pintor holandês. Para conseguir as obras, Brennand chegou a arrematar lotes inteiros de quadros porque neles havia um de Post.
Foi com esse mesmo entusiasmo que ele montou uma biblioteca, que será oficialmente aberta ao público neste semestre, ao lado das outras duas coleções no Instituto Brennand, em Recife. O espaço é praticamente desconhecido dos pesquisadores, já que o acesso sempre foi restrito a poucos visitantes com agendamento prévio.
"É a mais importante biblioteca para o estudo do período holandês no Brasil. Ela reúne raridades que doutor Ricardo comprou em leilão ou que chegaram até ele", afirma Leonardo Dantas, historiador e consultor do Instituto Brennand.
São no total 20 mil livros, além de manuscritos e partituras musicais totalizando 60 mil itens.

GOSTO DUVIDOSO
Brennand, que é famoso pelo seu ecletismo, com aquisições muitas vezes de gosto duvidoso, não reuniu esse conjunto sozinho. Ele foi auxiliado por Dantas, que é especialista no tema. Também adotou a estratégia de adquirir acervos inteiros construídos ao longo dos anos por pesquisadores.
Sua primeira grande aquisição foi a biblioteca completa do historiador José Antônio Gonsalves de Mello, um dos principais estudiosos no país do período holandês (1630-1654).
São 5.000 livros e periódicos, muitos deles com anotações do ex-proprietário.

MÚSICA BARROCA
Outro conjunto completo adquirido por Brennand foi o do músico e pesquisador Jaime Cavalcanti Diniz, especialista em música barroca.
Ao longo da vida, ele garimpou 1.500 partituras, principalmente de compositores brasileiros eruditos do século 18, muitas das quais são originais únicos.
Passear pelo acervo da biblioteca revela surpresas, como um manifesto manuscrito de portugueses que moravam em Pernambuco, contra a Companhia das Índias Ocidentais, datado de 1646.
No documento, que circulou em poucas cópias na Europa, o grupo relata as atrocidades cometidas pelos invasores da Holanda, que entregavam seus inimigos para os índios tapuias devorarem em praça pública.
Entre as raridades, há livros como "Historiae Naturalis Brasiliae", de 1648, primeiro tratado sobre história natural escrito nas Américas, cujos autores integravam a comitiva de Maurício de Nassau. Além dos atlas de Gaspar Barleus, ricamente ilustrados, como é o caso da edição colorida de "Rerum per Octennium in Brasilia", de 1647, considerada um tesouro pelos bibliófilos.

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