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sexta-feira, 12 de outubro de 2007

BlogPoem: Lembrança Imortal - Dihelson Mendonça





LEMBRANÇA IMORTAL


O ar tao docemente trouxe o aroma
De outras eras passadas
À sombra frágil dos eucaliptos
Rasgou assim a minha consciência
E brilhou na claridade da minha juventude!

Sons longínquos de uma era distante,
O cheiro da fumaça de madeira,
O frescor da tarde, a liberdade imensa,
E a paz celestial da minha rua...

Meu pai sentado a ler numa cadeira,
Minha mãe a coser cantarolando em plena sala,
Gatos dormiam, cansados da noite insone estrebuchados
E ao longe se viam nuvens talentosas a esculpir o céu.

A brisa de junho causava um frio temporário
E eu via algum transeunte a passar na rua
Talvez um estudante rumo à escola
Talvez um velho, (meu reflexo) a ruminar os anos vencidos.

As montanhas guerreavam pela exuberância da beleza.
E a flora rejuvenescia a cada chuva,
A vida era doce, minha Mãe um anjo,
E nesta época Eu era imortal !

Para onde foi a minha graça?
Que fizeram da minha mocidade?
Em que página de um livro escondi a minha vida?
Talvez as pedras o saibam,
Talvez as nuvens a tenham tecido
Na imensidão do céu...
E quem sabe, o sonho acordado de uma vida assim
Talvez nunca tenha sido por mim sonhado...



Dihelson Mendonça - 2003

3 comentários:

socorro moreira disse...

Acho a princípio, que todo homem é poeta! Mas nem todos rimam felizes!
Tenho repentes poéticos... admito! Mas ainda vai custar, o meu feitio!
O verso tem que enfeitiçar;mudar a expressão do olhar; mexer com o sentimento...fazer a pessoa devagar, devagar...lembrar, sem enlouquecer!
Teu poema me faz conjugar a saudade, como verbo principal, em todos os tempos do indicativo!
- O verbo auxiliar...Eu sinto!

*OPS
Não tirei o substantivo da saudade...Fiz como na Matemática: um artifício literário.

Pachelly Jamacaru disse...

Maestro Mendonça e suas mil e uma facetas. Belo poema rapaz, belo poema!
Poeta Mendonça,
abraço

Dihelson Mendonça disse...

Muito obrigado, gente. Vindo de pessoas como SOCORRO MOREIRA e PACHELLY JAMACARU, gente que tenho profunda admiração como poetas de verdade, e grande inspiração para mim, isso é um grande elogio de mestres para mim.

Como Socorro disse "A princípio, todo homem é poeta..." bem, desde a juventude, venho colecionando aqui umas coisinhas raras, 2 ou 3 por ano, sem me dedicar muito.

Na verdade, creio que as pessoas escrevem melhor na solidão, nos momentos de introspecção. Pelo menos certos tipos de poesia.

E a gente não pode fugir a nosso estilo...eu nem sei se tenho estilo, sou meio mistura de tudo. A gente lê de tudo, mas tem as pessoas que se gosta mais, e acho que isso acaba influindo na poesia. Eu gosto muito do Augusto dos Anjos, da Cecília Meireles, do Fernando Pessoa, mas também admiro muito Bilac, a perfeição parnasiana de Alberto de Oliveira, o comando da língua de Camões, Bocage, o lirismo até piegas de Álvares de Azevedo, Castro Alves, e os poetas novos, irreverentes, que escrevem umas coisinhas pequenas e falam tudo. Pulando para a modernidade, Geraldo Urano por exemplo, também é um grande poeta, que precisa ser valorizado, pela síntese que ele consegue. Eu confesso que nesse ponto sou muito disperso, talvez devido à eu ser principiante, gasto muitas palavras para descrever certas coisas que me vêm à cabeça, que outros poetas atingiriam a mesma carga emocional com menos palavras e num breve tempo.

Mas...vamos escrevendo. Depois a gente melhora, conserta os erros, e quem sabe um dia poderei me reunir à vocês para publicar nossos poemas num livro coletivo, a exemplo do que estamos a tentar fazer com as fotografias do Cariri...

Desde já, muito obrigado, poetas!


Dihelson Mendonça