TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Vamp


a rua escura deserta
acelera o desejo
eu piso fundo no mundo
com o farol aceso
uma sirene: polícia
no retrovisor
não sei se é paranóia
ou se sou infrator

em cada curva fechada
espero pelo pior
estranho cheiro de sangue
ninguém ao redor

no carro, o rádio anuncia
mais um assassinato
vejo seu corpo na esquina
paro o carro e salto
como vou te esquecer
seu beijo é mesmo assim
marcas no pescoço dizem
que o tempo todo só
queria assistir a meu fim
um dia seu nome é Ana
no outro dia Janette
o tempo todo na cama
afiando a gilete

só sai na rua se for
em busca de uma brisa
e quando o dia começa
você corre da polícia

a vida inteira agitou
e hoje vive no vício
um vai e vem, entra e sai
na porta do edifício

seu veneno é cruel
seu olhar, assassina
me queimo no seu calor
seu coração de heroína

como vou te esquecer
seu beijo é mesmo assim
marcas no pescoço dizem
que o tempo todo só
queria assistir a meu fim

você só quer aplicar
você não quer nem saber
você só sabe iludir
você espalha o terror

In: CHACAL. Comício de tudo: poesia e prosa. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.85-86. (Cantadas literárias, 48)

3 comentários:

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Assim como o Geraldo Urano e Lupeu, Chacal tem a cara da gente!

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

E por falar em Lupeu, cade o Nicodemos?

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

E por falar em Lupeu, cadê o Nicodemos?