O FÓSSIL - Michel Régnier
Essa história começou durante um grande estrondo da Terra, há mais de cem milhões de anos. Neste período do cretáceo, o atual sertão do Nordeste brasileiro - na parte sul do Ceará, nas proximidades dos Estados do Piauí, da Paraíba e de Pernambuco - era uma região semeada de lagos, ocasionalmente, banhada pelas águas do mar; onde abundavam peixes, hoje desaparecidos, que tinham surgido trezentos milhões de anos antes, durante o período ordoviciano
Existiam trinta espécies, divididas em duas classes: os condrictes - medindo, em média, cinqüenta a sessenta centímetros - representavam, especialmente, os ancestrais da arraia e do tubarão; e os teleósteos - com pouco menos de dois metros - cujo único e raríssimo sobrevivente, o celacanto, considerado o mais antigo peixe do mundo, foi identificado no Oceano Indico ao largo de Madagascar.
Os Karyris sofreram um verdadeiro genocídio, produzido pelos invasores - colonizadores brancos, dotados de armas de fogo, ao passo que os nativos não podiam se defender com seus arcos e tacapes. Sua região foi, inicialmente, chamada de Cariri Novo, para diferenciar da região vizinha, mais antiga: O Cariri Velho também conhecido como Cariri Paraibano. Ele era exaltado, por alguns, como um doce oásis sobre a terra do sol. Segundo Raimundo Oliveira Borges - professor da URCA -, ocorreram dois fluxos de povoamento no Cariri: o do “Sertão de fora”- alcançando os Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte e o do “Sertão de dentro”, vindo da Bahia pelo rio São Francisco. Os colonos criaram, rapidamente, uma economia rural, sertaneja*, chamada “Ciclo do couro”. Uma criação intensa de bovinos e, é claro, de cavalos, necessários aos boiadeiros - aos fiéis vaqueiros, cujas roupas e chapéus de couro, habilmente trabalhados, são a flor do patrimônio nordestino. Por razões, evidentes, de subsistência, essa economia foi complementada com uma agricultura apropriada: mandioca, milho e feijão. Vieram, em seguida, as culturas do algodão, da cana de açúcar e do arroz, e, mais tarde, o cultivo do abacaxi, nos arredores de Santana. O Cariri ia expandir-se em uma mistura e, em breve, em uma simbiose de tradições indígenas, coloniais e religiosas. Sim, quase um país, o Cariri faz convergência com quatro Estados: Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba. Quase um paraíso, o Cariri, englobando a Chapada do Araripe à rocha escarlate e à terra fértil. Um clima semi–árido tropical, com temperatura média de 25 ºC, podendo, nos meses de junho e julho, baixar a 17ºC.
Filho da região, o cineasta e poeta Rosemberg Cariry nos relembra a antiga crença popular, na qual o Cariri era um território mítico de Badzé, cujos dois filhos Poditã e Warakidzã habitavam a constelação de Orion. Esse deus enviou seu filho mais velho Poditã, à terra Cariri, “para ensinar aos índios a reconhecer as frutas, a caçar animais, a fazer farinha de mandioca, a fabricar utensílios de uso cotidiano, a dançar, a cantar e a realizar rituais sagrados”.
Ainda hoje, muitas lendas indígenas continuam vivas na “Região do Cariri.” Assim, próximo a Nova Olinda, no misterioso sítio do Olho D’água de Santa Bárbara, uma ponte de pedra natural permite o acesso ao pé da Pedra da Torre (ou Torre do Castelo Encantado) sobre altos rochedos, no flanco da chapada onde os sombrios buracos, das pequenas cavernas suspensas, lembram janelas e balcões de um mítico palácio. Acima do riacho, a ponte é guardada pela princesa Maara, cujo pai, para puni-la por usar a arte da sedução e do mal, transformou-a em serpente, porém, conservou, além de seu belo rosto, seus belos cabelos negros que caem sempre sobre as escamas. Quando não está se banhando, na água calma do poço da Mãe D’água, ela senta sobre a pedra e canta.
2 comentários:
Olá,gostei muito desse texto me esclareceu muito sobre as lendas de poditã e da maara.fico muito agradecida a vcs que sempre nos enchem de informações sobre a nossa amada região do cariri.Abraços.
Estarei lá no lançamento, para fazer toda a cobertura fotográfica e entrevista em vídeo.
Um grande abraço,
Dihelson Mendonça
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