Os EUA obviamente escolheram a barbárie contra o socialismo, no Afeganistão. Eles financiaram a al-Qaeda e o Talibã porque acreditavam que o comunismo era uma opção pior. Eu não acho isso. Também não acho que a al-Qaeda ou o fundamentalismo sejam os maiores perigos enfrentados pelo capitalismo. O capitalismo sobreviverá a eles e fará dinheiro com eles. O fundamentalismo islâmico não é um grande perigo porque não é capaz de vencer guerras. Para compreender a situação atual, é preciso compreender que o Onze de Setembro jamais ameaçou os EUA. Foi uma tragédia humana que humilhou os EUA, mas o país não estava de forma alguma mais fraco após os ataques. Três ou quatro ataques equivalentes não mudarão a posição de poder dos EUA no mundo.
Os EUA são o grande poder propagandístico do mundo. A França o foi em 1789, depois o foram os comunistas, e agora são os EUA, em si também um regime revolucionário. Quando você tem a chance de espalhar sua influência, termina se transformando num império. É o caso francês no período de Napoleão. Eles alegavam estar fazendo o bem para os países que conquistavam, mas eram considerados simples conquistadores pelo resto do mundo. A diferença é que, diferentemente do caso alemão, que não quis fazer bem para todo mundo, os franceses e os russos tinham e os americanos têm mesmo o objetivo de fazer o bem ao espalhar suas idéias. Agora, os americanos têm a chance de fazer o que os franceses fizeram no tempo de Napoleão, e os argumentos pró e contra são parecidos.
Eles usaram o Onze de Setembro como oportunidade para demonstrar que são o único poder com a capacidade de domínio. Agora, qual o objetivo deles além de provar que conseguem dominar outro país é difícil de dizer. Não há qualquer justificativa racional para a Guerra do Iraque. Os EUA terão de aprender que há limites até mesmo para seu poder e, com alguma sorte, acho que isto acontecerá. Neste momento, no entanto, o processo de aprendizado mal começou.
Eric Hobsbawm, 2002
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