As revoluções do século XX foram tão frequentes quanto as guerras de natureza geopolítica. As lutas de libertação nacional, de queda de estruturas que atrasavam a necessária ampliação da vida material e intelectual dos povos foram mundiais. Em todos os continentes as revoluções ocorreram. Na América Latina, inclusive, as ditaduras militares fortemente influenciadas por uma aliança das elites locais com os poderes imperiais no período da guerra fria. Isso é o contexto do mundo real.
Não cabe, neste momento, da renúncia de Fidel um discurso ideológico, de natureza reacionária, como se tudo se resumisse a uma discussão de torcedores de futebol. Não cabe ao regime castrista aquela velha cantilena de um catolicismo conservador, prisioneiro aos ditames da guerra fria, pois setores importantes da igreja, dita católica, pensaram diferente. Não cabe a mera discussão genocida, pois isso se resumiria a contagem de um lado e outro das trincheiras de torcedores fanáticos.
Fidel e Raul Castro são filhos de um latifundiário muito rico e que, embora não descendentes de dinastias desta natureza, tinham uma vida material muito confortável e estudaram nos colégios da elite da ilha. Fidel e Raul, portanto, estão mais para o tipo de classe média intelectualizada, de esquerda, que, diferentemente da maioria que vive no conforto, ao largo dos conflitos armados, optaram por essa via. Muitos jovens da América Latina, Europa, África e Ásia fizeram o mesmo. Fidel e Raúl pertencem a um tradição cubana de defesa nacional que se origina em José Marti, a maioria vinculada às raízes espanholas. Os pais de Fidel e Raul eram galegos. Fidel, para quem não for preconceituoso, revela no livro Biografia a Duas Mãos (dele e Ignacio Ramonet) um sujeito mais influenciado intelectualmente e disciplinarmente pelos Jesuitas que por Marx.
Entender a aversão cubana de ser um anexo do EUA é uma grande lição de história. Isso não impede que parte da elite cubana, que fugiu de Cuba junto com Baptista e continuou fugindo não ache que isso seja melhor para os cubanos. De qualquer forma é uma cegueira política e histórica não observar que parte da América Latina luta com um império que tentou controlar a vida material, cultural e ideológica do subcontinente.
Por último: como se vê na associação do Samba do Crioulo Doido entre Fidel (um classe média latinfudiário), Chavez (militar de classe média) e Lula (um operário) a verdade da luta não se encontra em Cuba. Ela se encontra bem aqui, no Brasil. Isso é um discurso imperial e antinacional por princípio. Por variação, pode apenas ser um sentimento vago de aversão política muito comum nos dias de hoje. Apenas um detalhe: a aversão ao outro, ao contrário, não costuma construir democracias verdadeiras.
5 comentários:
Meu caro Zé do Vale,
Eu bem imaginei que ia mexer num vespeiro...Deu no que deu.
Entretanto, a verdade é clara como o sol nordestino:Há 49 anos Cuba parou no tempo, isolou-se do mundo civilizado, vive num regime comunista ossificado igual ao que o leste europeu varreu do mapa em 1989. Além disso, Fidel inventou guerras contra outros povos (na África e América Latina) enviando seus filhos para morrerem sem sentido feito buchas de canhão.
Com todo o respeito que tenho por sua pessoa (e suas convicções) e que nossa discordância não diminui, afirmo: Cuba é uma ditadura e ponto final.
Ah, mas lá o sistema educacional, o sistema de saúde funcionam, são melhores do que os ofertados no Brasil. Se isso for verdade (tenho lá minhas dúvidas, pois toda ditadura adora propagandas enganosas. Já vimos esse filme aqui) e se isso foi feito em troca das liberdades democráticas, nada vale.
É verdade inquestionável as violações dos direitos humanos - lá praticadas - pela ditadura da dinastia Castro.
Também não é recomendável o argumento de alguns:não importa as ações de Fidel, o que vale é que ele dedicou a vida inteira a um ideal. Se esse argumento for válido, não estranhemos se alguém usá-lo para defender Adolf Hitler...
Cordialmente,
Armando
Grande Armando: acho que você de fato não está bem informado a respeito de Cuba. Não estou justificando nada que não seja o pleno conhecimento do que ocorreu em tecnologia de saúde e isso, eu conheço bem, não por panfletos de propaganda. Cuba não se isolou do mundo civilizado, isso é uma biombo para facilitar o discurso, assim como é inegável a evolução tecnológica na URSS e isso você conhece muito bem, pois foi testemunha viva da disputa entre os Soviéticos e os Americanos. Então ficamos assim, os EUA e seus satélites montaram ditaduras em todos os continentes, destruíram as riquezas de países ricos e escalaram o papel de cada um no comércio mundial: aqueles de matérias primas e os de valor agregado. Armando não falo em ponto final, falo em algo aberto e analítico. Ou você acha que a atual civilização tecno-científica, baseada no capital e na expansão dos mercados não é uma só? Não fale em dinastia Castro, isso não é justo e não corresponde ao conceito de dinastia. Apenas escrevi sobre Fidel por querer abrir o debate, mas você teima em fechá-lo. O que fazer? Pergunto.
hehehehe!!
E então? Como é?
Vamos desenrolar esse troço?
Posso entrar?
hehehe!!
"Mundo Civilizado"?
Não é que isso seja uma biombo para facilitar o discurso, isso é simplesmente o discurso, pífio e rasteiro que vem alimentando todas as guerras neste mundo cão!
Grande Leonel: e quem ousará responder a uma pergunta tua? Como a mulata de Di Cavalcanti ao entrar no céu, Deus feliz da criação, entre minha filha, você não necessita pedir licença.
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