Esse não tem familiaridade com o Agapito. Nasceu, criou-se e virou rapaz velho lá pelo norte do Ceará. Em Sobral, que se antes já falava inglês, agora mesmo é que virou internacional. Altamente internacional. Com o Dihelson nos altos níveis musicais, corroendo o edifício de cartas do forró eletrônico. Pois bem era o Artur. Como se dizia: rapaz velho. Fazendo rastro na estrada, cheirando os jardins das vizinhas, um chuvisco de olhos bambos e tempestades na cama. Qual outra vida poderia querer o Artur?
No cimo da serra da Meruóca, no verão o sol nascia num lado e se punha de banda para o norte e no inverno pendia para o sul de tanta chuva no lombo da terra. Então pipocava mato para tudo que é lado. Como Artur era observador dos detalhes, já via um eito inteiro daquelas plantas que ele chamava berdoaga e o dicionário, muito do enxerido só quer dizer que é beldroega. E tinha mais, canapu, melão de são caetano, tomate selvagem, pimenta de macaco, carrapicho, pega pinto e pega o Artur a rodar de uma casa para outra pelas manhãs ensolaradas.
Depois do almoço, um pires de doce de leite pra adoçar a boca, um café de avó, um cigarro lasca peito e o fundo da rede para render cinema de sonhos por algumas horas da tarde quando o sol a pino. O sol esfria e lá vai o Artur, cuidar de um garrote por lá, um pasto por aqui, uma cocheira para render no leite do amanhã. Toda a noite o Artur se encontra no arruado para troçar da vida levada a sério, um gole que passarinho não bebe, uma fantasia com a mulher de alguém. Viajou, foi para Fortaleza, leva quinze dias para voltar. Pronto o Artur era homem dadivoso. Sempre pronto para proteger as mulheres do próximo em plano de fuga dos sorrisos dela com as piadas visgueiras do solteirão.
Queria outra vida o Artur? Não queria. Mas o conselho de família entra feito bicho de pé. Quando Artur se deu por encontrado, já estava toda aquela bateria: Casa Artur! Casa para tu ter sossego. Tu tá ficando velho. Tu precisa de uma proteção. Casa Artur! A vida vai ficar mais segura para tu. Casa para tu ter sossego! E o bicho de pé foi coçando, inflamando e agoniando a alma de Artur nunca dantes navegada naqueles mares bravios.
Não tem sujeito que suporte tamanha pressão. E Artur arrumou um namoro, tentou esticar no portão, mas logo o quiabo familiar levou Artur para a sala, da sala para intimidade, os papéis, a grinalda, o paletó e padre. Artur casou. Cabelos penteados, bigode aparado, roupa bem passada e até uma fragrância de algum extrato de flor. Artur não era mais um rapaz solteiro, os rastros da estrada reduziram-se, as noitadas com os amigos se escassearam e lá estava o Artur ouvindo novela no rádio.
Como era da sorte, a mulher de Artur pegou barriga. Pelo jeito um meninão sendo bem cevado na bem alimentada mulher. A parteira já contratada, as presenças do prazer a dois já chegando nos seus limites e o Artur meio de touro de manada. A qualquer hora seria demandado a buscar ajuda.
E foi. Uma noite de chuva como só na Meruóca acontece. Chuva de afogar piaba. Chão brejado, folhas escorrendo como goteiras, cavalo arrepiado. A mulher feito locomotiva chegando na estação. A hora é chegada e quem sabe faz a hora. Artur arreia, na pressa que a necessidade exigia, o cavalo. Sobe e como um tanque de guerra sai a trote através do temporal impiedoso. Na primeira cancela, desce, passa o cavalo, fecha a cancela no corre e corre, tenta subir no cavalo como um cowboy treinado, ao salto desde o chão. Mas o arco de tamanha força o leva ao outro lado do animal, retornando ao chão sob a batuta da gravidade. Naqueles termos a melhor expressão do momento é timbungo na água rasa da estrada. E aí Artur se deu conta da força ontológico dos conselhos. Olha para a cancela encharcada e diz:
Casa Artur! Casa para tu ter sossego na vida!
4 comentários:
Gargalhadas !
É desse jeito ... Quem mandou Artur casar ?
Eheheheheheheh
Zé, Obrigado por fazer alusão a mim nesse "conto". E ele até já me deu forças para não fazer a besteira que o Artur fêz... casar-se! ahahahahah
Casa não, Artur!
Abraços.
Também ri com esse post... me lembrou uma música da Nina Simone, "Mariage is for old folks". rs
Já li em voz alta 3 vezes para os meus três varões ... kkkkkkkkkkkkkkk E um deles é Arturo.
Artur é o André !
Vai casar ... Já, já !!
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