TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 26 de maio de 2008

CASA ARTUR! CASA PARA TU TER SOSSEGO NA VIDA!

Esse não tem familiaridade com o Agapito. Nasceu, criou-se e virou rapaz velho pelo norte do Ceará. Em Sobral, que se antes falava inglês, agora mesmo é que virou internacional. Altamente internacional. Com o Dihelson nos altos níveis musicais, corroendo o edifício de cartas do forró eletrônico. Pois bem era o Artur. Como se dizia: rapaz velho. Fazendo rastro na estrada, cheirando os jardins das vizinhas, um chuvisco de olhos bambos e tempestades na cama. Qual outra vida poderia querer o Artur?

No cimo da serra da Meruóca, no verão o sol nascia num lado e se punha de banda para o norte e no inverno pendia para o sul de tanta chuva no lombo da terra. Então pipocava mato para tudo que é lado. Como Artur era observador dos detalhes, via um eito inteiro daquelas plantas que ele chamava berdoaga e o dicionário, muito do enxerido quer dizer que é beldroega. E tinha mais, canapu, melão de são caetano, tomate selvagem, pimenta de macaco, carrapicho, pega pinto e pega o Artur a rodar de uma casa para outra pelas manhãs ensolaradas.

Depois do almoço, um pires de doce de leite pra adoçar a boca, um café de avó, um cigarro lasca peito e o fundo da rede para render cinema de sonhos por algumas horas da tarde quando o sol a pino. O sol esfria e vai o Artur, cuidar de um garrote por , um pasto por aqui, uma cocheira para render no leite do amanhã. Toda a noite o Artur se encontra no arruado para troçar da vida levada a sério, um gole que passarinho não bebe, uma fantasia com a mulher de alguém. Viajou, foi para Fortaleza, leva quinze dias para voltar. Pronto o Artur era homem dadivoso. Sempre pronto para proteger as mulheres do próximo em plano de fuga dos sorrisos dela com as piadas visgueiras do solteirão.

Queria outra vida o Artur? Não queria. Mas o conselho de família entra feito bicho de . Quando Artur se deu por encontrado, estava toda aquela bateria: Casa Artur! Casa para tu ter sossego. Tu tá ficando velho. Tu precisa de uma proteção. Casa Artur! A vida vai ficar mais segura para tu. Casa para tu ter sossego! E o bicho de foi coçando, inflamando e agoniando a alma de Artur nunca dantes navegada naqueles mares bravios.

Não tem sujeito que suporte tamanha pressão. E Artur arrumou um namoro, tentou esticar no portão, mas logo o quiabo familiar levou Artur para a sala, da sala para intimidade, os papéis, a grinalda, o paletó e padre. Artur casou. Cabelos penteados, bigode aparado, roupa bem passada e até uma fragrância de algum extrato de flor. Artur não era mais um rapaz solteiro, os rastros da estrada reduziram-se, as noitadas com os amigos se escassearam e estava o Artur ouvindo novela no rádio.

Como era da sorte, a mulher de Artur pegou barriga. Pelo jeito um meninão sendo bem cevado na bem alimentada mulher. A parteira contratada, as presenças do prazer a dois chegando nos seus limites e o Artur meio de touro de manada. A qualquer hora seria demandado a buscar ajuda.

E foi. Uma noite de chuva como na Meruóca acontece. Chuva de afogar piaba. Chão brejado, folhas escorrendo como goteiras, cavalo arrepiado. A mulher feito locomotiva chegando na estação. A hora é chegada e quem sabe faz a hora. Artur arreia, na pressa que a necessidade exigia, o cavalo. Sobe e como um tanque de guerra sai a trote através do temporal impiedoso. Na primeira cancela, desce, passa o cavalo, fecha a cancela no corre e corre, tenta subir no cavalo como um cowboy treinado, ao salto desde o chão. Mas o arco de tamanha força o leva ao outro lado do animal, retornando ao chão sob a batuta da gravidade. Naqueles termos a melhor expressão do momento é timbungo na água rasa da estrada. E Artur se deu conta da força ontológico dos conselhos. Olha para a cancela encharcada e diz:

Casa Artur! Casa para tu ter sossego na vida!

4 comentários:

socorro moreira disse...

Gargalhadas !
É desse jeito ... Quem mandou Artur casar ?

Dihelson Mendonça disse...

Eheheheheheheh

Zé, Obrigado por fazer alusão a mim nesse "conto". E ele até já me deu forças para não fazer a besteira que o Artur fêz... casar-se! ahahahahah

Casa não, Artur!

Abraços.

Amanda Teixeira disse...

Também ri com esse post... me lembrou uma música da Nina Simone, "Mariage is for old folks". rs

socorro moreira disse...

Já li em voz alta 3 vezes para os meus três varões ... kkkkkkkkkkkkkkk E um deles é Arturo.
Artur é o André !
Vai casar ... Já, já !!