Marcos Vinícius Leonel fez uma postagem a seguir chamada O Bote em que denuncia, com muita precisão, as contínuas tentativas estrangeiras sobre a integridade do território da Amazônia brasileira. Integridade bem entendida como espaço de vida natural e como espaço de ocupação e, portanto, como habitat do humano brasileiro. Claro que de qualquer humano, mas reservado em se tratando de decisão a respeito do que se constitui como território nacional. Aproveitando a argumentação do Leonel, mais algumas considerações.
A partir do que se noticiou nos canais nacionais e internacionais de comunicação já podemos considerar como um único movimento o que parece assuntos tão diversos. Pertence ao mesmo totem comunicativo os rostos distintos que vão da questão dos arrozeiros em Roraima; a demarcação das terras indígenas; as revoltas dos madereiros; a grita reacionária dos plantadores de cana e soja em conjunto com os pecuaristas; a associação entre movimentos camponeses e de garimpeiros e o foco na já quase multinacional Vale do Rio Doce. Os deuses que este totem se referem e com os quais se comunica: commodities minerais, alimentos e energia.
Na mesma conexão, mas numa escala mais ampla encontra-se o comércio mundial de mercadorias. Ávido por circulação de meios e recursos, demandante pela emergência de sub-continentes inteiros de consumidores, tenso pelo esgotamento de modelos que já não sustentam a realidade como nos EUA e na própria Europa. O que o parágrafo anterior tenta resumir, de forma muito compacta é que há uma crescente tensão no interior dos Estados Nacionais em razão de uma forma internacional de guerras e invasões, especialmente nos territórios das últimas grandes reservas mundiais de petróleo.
O Brasil nos últimos dez ou doze anos de repetente passa por uma crise de transição. A violência urbana se interioriza e se dissemina até pequenos aglomerados. A conectividade entre os meios de comunicação se multiplica através de unidades de telefonia móvel, da rede mundial de computadores, das tradicionais mídias, da particularidade das motocicletas, das estradas asfaltadas. Estes sintomas, entre outros mais, colocam toda a nação numa emergência de maioridade entre grandes nações, imensos problemas mundiais, grandes pressões políticas e econômicas, grandes impactos demográficos.
Efetivamente a sociedade nacional já não é a mesma de quinze anos antes, já não é um mero objeto cobiçado de nações estrangeiras, ela passa agora pelo ato adulto de se afirmar no mundo e num mundo bastante complexo. Um mundo com consciência científica e política do impacto ambiental do desenvolvimento e do progresso industrial. Ao mesmo tempo em que é uma sociedade com grandes emergências de consumo e produção de recursos, necessitada de mais energia e de maior renda popular. Por isso mesmo, o debate agora não é tão linear, tão preto no branco, o debate envolve uma linha tênue entre matar o ímpeto transformador da estagnação nacional ou crescer de modo desenfreado com enormes desperdícios de recursos e gente.
Finalmente Leonel, um adendo ao que você se refere como aberrante pesquisa com cobaias humanas nas selvas acreanas. A malária amazônica continua um dos mais antigos e graves problemas de saúde pública brasileiro. Não sei se a sua fonte de informação é a que se refere à pesquisa realizada por Luis Hildebrando, velho pesquisador brasileiro, exilado do país na ditadura e cientista do Instituto Pasteur até se aposentar. Hildebrando tem realizado uma das mais importantes linhas de pesquisa sobre o assunto e posso afirmar que certamente se encontra entre aqueles que certamente ajudarão a sociedade brasileira a adotar postura mais autônomas e responsáveis neste emergente e novo cenário mundial.
3 comentários:
Não é essa não, José. A pesquisa que eu falo é patrocinada pelo próprio governo, que paga 50 reais para as cobais se exporem a picadas dos mosquitos até serem infectados várias vezes. O sangue recolhido em lâminas é exaustivamente examinado e, pela falta de cuidados, já difundiu não só a malária, mas vários tipos de hepatite e aids. Algumas cobais faleceram após serem contaminadas pela malária por mais de 30 vezes.
Além desse aspecto adicionado por você, o seu texto é muito completo. Hoje eu vejo o país como um dirigível louco para tomar os ares, mas fica ancorado pelos países estagnados, como Estados Unidos e Inglaterra, bem como a canalha de boa parte da política nacional.
ABRAÇOS
Adoro essa consciência critica , que tem o meu amigo José !
Leonel,
Meu Deus , com a realidade é cruel !
A poesia é nossa salvação ... sem rimas eu faço ... pra fugir da solidão humana , do degrado , "dos sepulcros caiados" ... Mas não é por alienação ... É por nojo da situação... Epor impotência de achar solução .
Um abraço !
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