TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 22 de maio de 2008


Um dia com certeza

Estende os braços magros
E pede os teus anos de volta
O teu peso agora é outro
Não está mais envolto em velhos lençóis
Eu compreendo, agora um pouco mais expurgado

O veneno enclausurado é pior
Por que mete mais medo
Antes de ti vieram àqueles desesperados
E vestiram de rede os seus olhos esbugalhados
Eu compreendo, as mãos inchadas a enxadadas

Os portões semicerrados,
Tão grandes, tão pesados,
Esperam por palavras semicaladas
Há um cemitério de amarguras aprimorado
Eu compreendo, o sol já vai alto

Agora as pedras são confidentes
Das águas que passam
Agora a fome já não é tanta
E as buganvílias parecem descansadas
Eu compreendo, o dorso é só um caminho

Tira a caserna das palavras
Pouco se sabe das terras mofadas
É bom que se diga que quase todos
Já abandonaram os ossos, agora são voláteis
Eu compreendo, já não posso mais te esquecer


Esse poema faz parte de um projeto, Alguns poemas consternados e outros nem tanto, a ser lançado ainda esse ano.





3 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Eis quem
Eu considero
Ao lado de Geraldo Urano
O maior poeta vivo do Cariri

Parabéns, Marcos
pela inteligência privilegiada e correta

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Um tanto expurgado,
mesmo que a enxadadas,
quando o tempo já vai alto,
o caminho apenas dorso,

a alma vivida,
vestida de perdas,
inchadas com olhos esbugalhados,
uma espinha dorsal por caminho

e o poeta não esquece,
esquecer é o fim do verso,
é não ter vivido.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Palavras generosas, poeta, um grande abraço, cê sabe que essa lida é infinda.

José, você tem enchido esse blog de informações precisas, distribuído talento e sensibilidade.
Também muito generoso.
um abraço